02/05/2011

Censo 2010: analfabetismo e nossa falta de pressa

O Censo 2010 apontou que 9,6% dos brasileiros com 15 anos ou mais é iletrada – mais especificamente 13.940.729 pessoas, quase uma Bahia inteira.
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No Nordeste, onde o índice é maior, atinge 19,1%. No último lugar, as Alagoas de Fernando Collor e Renan Calheiros, com quase um quarto da sua população (24,3%) sem saber ler ou escrever. Quando considerada só a zona rural do Estado, a taxa estoura para mais de um terço (38,6%). Os números ainda podem sofrer alterações, mas dificilmente mudarão de grandeza.
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A quantidade de analfabetos vem caindo (era 13,6% no último levantamento, em 2000), mas a uma velocidade menor do que a necessária. Aliás, se os governos não tomarem cuidado, a queda ficará camuflada pela própria renovação geracional (os mais velhos, iletrados, morrendo e dando lugar nas estatísticas aos mais novos, que se beneficiaram da oportunidade que seus pais não tiveram de acesso a programa de transferência de renda ligados à educação básica). Ou seja, ao invés de aumentar os recursos investidos em programas de alfabetização de jovens e adultos estaremos solucionando o problema ao deixar o estorvo morrer com o tempo.
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Ao mesmo tempo, o letramento digital vem crescendo. Como já apontei aqui antes quando saíram os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), também divulgada pelo  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Sudeste era a região com maior número de internautas: são 33,5 milhões de pessoas, ou 49,3% dos usuários da web no país. No total, representava 48,1% da população local. No Nordeste, eles eram 30,2%. O grupo de usuários que mais aumenta é o de jovens entre 10 e 14 anos, com 58,8% (eles eram 24,3% em 2005). Entre aqueles com 50 anos ou mais, 15,2% acessavam a internet.
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Cantamos loas ao maravilhoso mundo de bits e bites, mas muitos se esquecem de que parte da população não faz idéia de onde fica essa tal de internet ou a que horas ela deve passar no ponto da lotação. E a velocidade de expansão dos que navegam na rede irá colidir, em algum momento, com a dificuldade de alfabetizar digitalmente um analfabeto funcional. Ou seja, um problema não resolvido encontra outro problema a resolver.
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Considerando que, dentro em pouco, grande parte da vida das pessoas irá passar necessariamente pela rede (e muitas instituições, de bancos a empresas de serviços públicos, a fim de poupar dinheiro, já fazem questão de jogar tudo para dentro da internet como se todo mundo já estivesse lá) isso significa que o abismo entre incluídos e excluídos será maior do que hoje. 
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E por falar em estrutura etária, os idosos eram 3,3% da população há 20 anos. Depois, em 2000, 4,3%. Agora, 5,8% ou 14.081.48 com 65 anos ou mais.
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Vivemos em uma sociedade na qual os que viveram mais não são vistos como patrimônio de conhecimento, mas sim como estorvo produtivo, por não poderem fornecer ao capital a mesma energia que garantiam antes, quando eram moços. O interessante é que à medida em que o tempo avança e a pirâmide demográfica brasileira vai mudando, com a redução no número de jovens na base (crianças de até 5 anos – 1991: 11,5%; 2000: 9,8%; 2010: 7,6%)  e o aumento no número de idosos no topo, vamos percebendo a armadilha que estamos construindo para o nosso próprio futuro – e não estou falando da questão previdenciária, mas sim da ausência de políticas públicas que garantam respeito e dignidade ao nosso próprio futuro. Porque, pasme, você vai ficar velho.
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E não pense que isso ocorre apenas com atividades que demandam força física – jornalista, por exemplo, também vai ficando ultrapassado aos 50 em nossa sociedade que também despreza a experiência de vida. Poucos são aqueles que se mantém bem posicionados na profissão sem serem atropelados pelos mais jovens que vêm cheios de gás para dar à redação, aceitando ganhar menos e trabalhar mais.
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Velhos, analfabetos, desconectados, desempregados. A gente até pode conseguir, lá na frente ganhar esse jogo de xadrez. O problema é a quantidade de peões que perderemos no caminho em decorrência de nossa falta de pressa e indiferença.
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