14/03/2010

CUBA E O ESTADO DE GUERRA COM OS ESTADOS UNIDOS



Aqui do Alto Xingu, os índios consideram visões mais abertas e íntegras as que veem o óbvio, ou seja, que Cuba não tem condições de abrir o regime e convocar eleições livres em pleno estado de guerra que os Estados Unidos, desde 1961, mantem com o país, configurado pelo embargo, bloqueio econômicos — reiteradas vezes condenados pela ONU como atentado aos direitos humanos do povo cubano — e pela guerra secreta — sabotagens, tentativas de assassinatos e outras ações terroristas, empreendidas durante cinco décadas por organismos secretos-norteamericanos e pela máfia cubana de extrema direita de Miami, que apoiou decisivamente o golpe da eleição presidencial norte-americana de 2002.

Ao longo dessas cinco décadas até 2008 ocorreram 713 atos de terrorismo na ilha, que vão de seqüestros e explosões de aviões, navios mercantes e de passageiros e barcos de pesca e de patrulha a bombardeio de plantações, armazéns, usinas energéticas e indústrias e até a contaminação das exportações de açúcar nos portos, organizados e financiados a partir do território norte-americano e países satélites do Caribe, com um saldo de 3.478 mortos e 2.099 incapacitados, sem mencionar a explosão em pleno vôo de um avião de passageiros da companhia Cubana de Aviación, em outubro de 1976, que matou 76 pessoas, o ataque contra o Hotel Guitart, em Cayo Coco, contra o Hotel Meliá las Americas, em Varadero, estes ultimos visando prejudicar o fluxo de turistas para a ilha, bem como as mais de vinte e cinco tentativas de assassinar/envenenar o Premier local.

O resultado disso foi a produção de milhares de vítimas entre a população, que sofreu as piores conseqüências da guerra encoberta e não declarada contra o governo local, daí resultando a proliferação de hepatite e outras enfermidades, como pancreatite, febre tifóide, varicela, gripe, disenteria, difteria além da morte por insuficiência de milhares de nascituros colocados em incubadoras.


Os bem informados do blog deveriam saber que a crise dos mísseis em 1962, resultante do bloqueio naval da ilha, resultou puramente da estratégia eleitoreira do então Presidente norte-americano. Como disse Luiz Alberto Moniz Bandeira, em seu livro: “De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a América Latina”: “Ele (Kennedy), contudo, colocou o mundo à beira do holocausto com o objetivo de obter ganhos na política interna dos Estados Unidos, para que o Partido Democrático fizesse a maioria do Congresso nas eleições de novembro, e compensar a humilhação que sofrera com a derrota na Baía dos Porcos…” Ainda, logo adiante, acrescenta o autor: “A política interna – John Kenneth Galbraith, embaixador dos Estados Unidos na Índia àquela época, reconheceu – foi o fator mais importante na decisão de impor o bloqueio naval a Cuba.”

A propósito dos refugiados nas embaixadas e consulados, a representação local do Uruguai a eles se referiu como “a maioria da pior espécie”; na do Brasil, onde foram com eles encontrados armamentos pesados, o embaixador Sebastian Pinto referiu-se a eles igualmente como “…muitos dos quais são da pior espécie”, um dos quais já havia assassinado outro a pauladas dentro da própria embaixada brasileira, a ponto do embaixador haver solicitado ao Itamaraty o envio de policiais brasileiros: “Por absurdo que possa parecer todos corremos neste momento grave perigo de vida.” Os supostos dissidentes já haviam assassinado um Conselheiro da embaixada do México, já haviam cometido três assassinatos na embaixada do Equador, dois na do Uruguai e dois na do Brasil.

Apesar dessas agressões, o governo da ilha, mesmo depois do bloqueio naval decorrente da crise dos mísseis de 1962, libertou 1.113 prisioneiros capturados durante a invasão da Baía dos Porcos e autorizou e facilitou a partida para os Estados Unidos de cerca de 1.000 parentes dos invasores, como libertou numerosos presos políticos, inclusive condenados a longas penas.

Em entrevista a Lisa Howard, da cadeia de televisão norte-americana ABC, o Premier manifestou, em 10.5.1963, a disposição de negociar a indenização das empresas norte-americanas expropriadas, como a seguir uma poilítica de paz “para com todos os países da América Latina.” A reação do Império foi aprovar, em 19.6.1963 um novo programa de sabotagens contra os maiores segmentos da economia da ilha, com o propósito de provocar o descontentamento contra o governo local. O fato é que o Império não queria que a ilha fosse um “case” de sucesso do socialismo na América Latina



As visões mais abertas e integras não perceberam que o próprio presidente norte-americano à época fora assassinado pela Máfia local, em conluio com os refugiados cubanos e empresários da extrema direira norte-americana, sem descartar a colaboração de serviços secretos locais, inconformados com a postura daquele ex-presidente por ocasião da invasão da Baía dos Porcos e da crise dos míssseis. À época, a mídia militante servil ao Império divulgou boato de que o assassinato havia sido tramado pelo Premier da pequena ilha, numa tentativa de levantar o clamor da opinião pública em favor da invasão.



Outro inaceitável para o Império foi o ex-presidente do Chile, eleito em 1970, mas cuja deposição foi decidida nessa ocasião e executada posteriormente em setembro de 1973, juntando-se, assim, com sua morte, aos assassinatos e deposição de outros dirigentes como Patrice Lumumba, Kwame Nkruma, Suharto, Goulart, etc. etc…



Os esquecidos da História deveriam recordar que, em 1979, tal como fiozera em 1965, o Premier da ilha abriu o porto de Mariel para que cerca de 40.000 pessoas saíssem do país, fato que alarmou o governo norte-americano, pois muitos “soi-disant” dissidentes eram ladrões e criminosos comuns, libertados então da prisões, circunstância que levou o governo norte-americano a despachar em missão secreta à ilha um emissário para negociar – pasmem blogueiros – o retorno à ilha dos criminosos despachados para a Flórida. O Império agora recusava a abrigar os refugiados…



De outro lado, os iluminados do blog deveriam ter visto também as 152 execuções que o então governador do Texas, e antecessor do atual Presidente, executou durante seus seis anos de governo, mais do que qualquer outro governador na história dos Estados Unidos, país que possui o maior número de prisioneiros em todo o planeta, sem mencionar as 740 bases militares ao redor do mundo e os centros de tortura terceirizados pelo Mundo, a fim de garantir a ferro e fogo a hegemonia do Império.



Os bloguistas com visão imparcial deveriam ter estudado melhor História para perceber que, desde o início dos anos 1960, os sabotadores pretendem transformar as embaixadas e consulados estrangeiros como base de operações para seus ataques de sabotagem, conforme informou o Embaixador brasileiro Sebastian Pinto àquela época: “Por absurdo que pareça, eu mesmo fui sondado sobre a possibilidade de garantir, previamente, asilo aos que participassem de campanha de sabotagem.”



As visões mais abertas e integras não notaram que, em 2008, apesar desse cerco de ferro, o regime cubano, em 2008, comutou todas as condenações à morte, transformadas em prisão perpétua ou por 30 anos, com exceção das que foram ditadas contra três pessoas culpadas de atos de terrorismo. Na ocasião, dissde Raul Castro, “no podemos desarmarnos frente a um imperio que no cessa de acosarnos y agredirnos. El terrorismo contra Cuba ha gozado de total impunidad en los Estados Unidos. Se trata de un verdadero terrorismo de Esdtado.



Quem quiser saber um pouco mais, basta ler o livro “De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a América Latina”, de Luiz Alberto Moniz Bandeira, começando pela leitura da reprodução, ao final do livro, de documentos oficiais secretos, do governo norte-americano, recentemente liberados, dando conta da engendração de vários pretextos que justificassem a invasão de Cuba pelas forças armadas norte-americanas, como parte de um plano secreto para derrubar Castro, que incluiam a promoção de atentatos terroristas em Miami, a simulação de assassinatos de exilados cubanos nos Estados Unidos, a encenação de um ataque à base naval de Guantánamo, a explosão de um avião norte-americano, etc, naquilo que James Bamford, em seu livro “Body of Secrets” descreveu como “the most corrupt plan ever created by the U.S. government”.



Aqui do Alto Xingu, os índios jamais assistiram a essas preocupações humanitárias cínicas e hipócritas do partido militante da midia neoliberal e de seus subintelectuais midiáticos, tipo Merval, Mainardi, et caterva:



a) ao longo dos quase 30 anos da sanguinária ditadura de Batista — que apenas nos seus últimos sete anos assassinou cerca de 20 mil pessoas –, patrocinada pelo Império até a sua queda em 1958, período em que cerca de 1,5% dos proprietários de terra, nacional ou estrangeiros, possuiam 46% da área do país, e cerca de 70% apenas 12%;
b) ao longo de quase um século que o Império mantem na ilha, à revelia do povo e governo locais, uma base aero-naval para controlar os países do Caribe, a rota do Canal do Panamá e o Norte da América do Sul;
c) quando, em 1959, o Império decidiu impor o bloqueio econômico da ilha — lançando-a virtualmente nos braços da União Soviética — fazendo com que, do dia para a noite, perdesse um mercado que absorvia 65% de suas exportações — quando estas representavam 30% do PIB — e que lhe fornecia cerca de 60% de suas importações, medida essa retaliada pelos novos dirigentes com a nacionalização das empresas do Império;
d) quando, desde 1960, o Império decidiu informalmente recrutar e treinar dissidentes, inclusive com o apoio da Máfia, para futuras operações de guerra na ilha, política que se tornou oficial a partir de 1961, com o firme propósito de derrubar o regime ali vigente, do que resultou a morte de milhares de habitantes, que sofreram as piores consequências da guerra não declarada e do bloqueio econômico;
e) quando, naquele ano, o Império aconselhou suas empresas petrolíferas na ilha a não refinarem o petróleo que o novo governo fora forçado a importar do Leste europeu, pressão exercida também sobre os armadores Onassis e Niachos para não fornecerem navios-tanques para seu transporte;
f) quando o férreo bloqueio da ilha foi ainda apertado por ocasião da débâcle dos países do Leste europeu, os quais constituíam a principal alternativa de comércio para a ilha (80% de seu comércio exterior era com aquela região): o poder aquisitivo caiu 60% e as necessidades de racionamento sequer davam para atender as necessidades de sustento das famílias (o fornecimento de petróleo e derivados desapareceu, parando fábricas e instalações energéticas);
g) quando, em decorrência do bloqueio genocida — destinado a vingar a única derrota do Império na América Latina, na fracassada tentativa de invasão da Baía dos Porcos — a queda do PIB atingira cerca de 35%, em 1989, gerando a falta de antibióticos, de artigos de limpesa e antiviróticos, o que causou grande número de mortes por infecções e ataques de vírus;
h) quando o efêmero governo golpista da Venezuela ordenou, em 2002, a interrupção do fornecimento de petróleo à ilha, atendendo aos interesses do Império, que pretendiam sufocar a pequena ilha;
i) quando mafiosos sequestraram e levaram para o Império um menino, onde o mantiveram por sete meses, até que a Corte Suprema ordenasse a devolução da criança ao pai, que vivia na ilha;
j) quando um governo de um pequeno país, vítima de ataques e sabotagens de toda espécie, não se vê em condições de baixar a guarda em pleno estado de guerra que o Império lhe impôs desde 1961; e
k) quando, desde 1960 até fins de 1908, ocorreram 713 atos de terrorismo na ilha, 56 dos quais a partir de 1990, organizados e financiados a partir do Império, com um saldo de 3.478 mortos e 2.099 incapacitados, sem mencionar as dezenas de milhares de mortos e mutilados vítimas do genocídio representado pelo bloqueio econômico ao longo de meio século.

Só os néscios, os hipócritas e os cínicos se recusam a reconhecer o esforço inaudito e heróico que o povo dessa pequena ilha faz para manter sua soberania, quando se sabe que conta com minúscula população, de apenas 11,2 milhões de habitantes, mas decididamente embuída de imenso patriotismo, a ponto de cerca de a metade estar armada para sua defesa, frente a um Império, ao lado, com quase 300 milhões de habitantes , PIB de US$ 14 trilhões e uma capacidade de destruir o planeta mais de 10 mil vezes;

Só os fariseus e cães de guarda do Império não enxergam o ÓBVIO: frente à agressão diuturna do bloqueio econômico, financeiro e militar imposta pelo Império à pequena ilha – que configura flagrante atentado aos direitos humanos de seu povo e fulgurante violação de leis internacionais – seu regime, por uma questão elementar de defesa da soberania, não pode ser uma democracia à moda Suíça, Filandesa ou Suéca, e que, por isso, cerca de 5,5 milhões de seus habitantes estão armados.

“Não pergunte por quem os sinos dobram.
Eles dobram por nós”
(John Done)






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