15/07/2009

A LENDA DO SOLDADO MORTO

Bertolt Brecht - A Lenda do Soldado Morto.


Die Legende vom toten Soldaten


(Tradução e adaptação por Antônio Cestari, Aachen, Alemanha)



Já era a quarta primavera em guerra

E a paz não apareceu

O soldado decidido espera

E como um herói morreu.


Mas como a guerra não terminou

O rei vendo morto o soldado

Ficou muito triste e pensou:

Morreu antes do fim o coitado.


O verão esquentava a sepultura

E o soldado jazia sem reclamar

Até que uma noite muito escura

Chegou ali um médico militar.


A comissão médica aguardada

Pelo cemitério adentrou

E com uma pá santa e sagrada

O soldado exumou.


O médico com precisão o soldado olhou

Ou pelo menos o que deste sobrava

O médico, o soldado por apto achou

E que este do perigo se esquivava.


Saíram e levaram consigo o soldado

Azul e linda a noite por ser

Podia-se, sem o capacete armado

Da pátria, as estrelas ver.


Sobre ele aguardente derramaram

Pois já apodrecia

Rezavam em seus braços duas freiras

E uma puta vadia.


E como o soldado a defunto cheirava

Um padre ia em frende ao andor

Pela cidade nuvens de incenso espalhava

Para encobrir o fedor.


Fazia um bumbum tralalá

A banda na frente da procissão

Para que o soldado marchasse

Como aprendera no batalhão.


Fraternalmente pelos braços, então

Dois enfermeiros o soldado erguia

Para que não caísse no chão

Pois isto, acontecer não podia.


Sobre o seu terno mortuário

De preto, branco e vermelho pintado

Assim carregando-o, não se via

Entre tantas cores; o defecado.


Um homem de fraque marchava na frente

Com sua cabeça toda empinada

E como um bom alemão decente

Seguro de seu dever pela pátria amada.


E assim marchavam com seu bumbum tralalá

Pelo escuro caminho alarde

E o soldado marchava cambaleando

Como floco de neve na tempestade.


Gritam os gatos e os cachorros por vezes

Assoviam no campo os ratos de contra:

Não queremos ser franceses

Porque isto é uma desonra.


E quando pelas cidades passavam

Todas as mulheres estavam lá

Brilhava a lua cheia, as árvores se curvavam

E todos gritavam hurra.


Com bumbum tralalá e até adeus

A mulher, o cão e o prelado

E entre eles o soldado morto

Como um macaco embebedado.


E quando as cidades percorriam

Não se via mais o morto lá

Eram tantos ao seu redor, o escondiam

Com seu bumbum e hurra.


Tantos dançavam e gritavam em rima

De forma que já não o viam

Podia-se vê-lo somente de cima

Mas em cima só estrelas haviam


Não estão lá sempre as estrelas

Pois vem certa uma aurora

Mas o soldado, como aprendera

Atira-se à morte heroica de outrora.






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