28/11/2012

Texto sobre o Seminário do Livro “Os Intelectuais e a Organização da Cultura” de Antonio Gramsci (2007)

Texto sobre o Seminário do Livro “Os Intelectuais e a Organização da Cultura” de Antonio Gramsci. Tradução Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 9ª edição, 1995.

Antonio Gramsci, intelectual italiano, com influência marxista em sua formação, deixa isso bem claro em sua obra literária, e seus escritos devem de ser observados com atenção até os dias de hoje, justamente por não se tratar de um autor que trate de assuntos datados, mas pelo contrário sua obra apresenta uma forte presença, ainda nos dias de hoje.

Em sua obra Os intelectuais e a organização da cultura, Gramsci, escreve sobre as condições em que se dá a formação e a presença dos intelectuais nas sociedades, tal obra é interessante de ser lida quando se observa o momento, não apenas histórico em que a obra fora escrita, com a ascensão do Fascismo na Itália, assim como a prisão do autor por este mesmo regime, o que o obriga a fazer, este e outros escritos de maneiras adversas, fazendo estas observações, ele relata quanto à condição necessária para a formação dos intelectuais, suas orientações políticas, sua condição socioeconômica dentro da sociedade a qual ele pertence, e dentro de sua orientação marxista, o autor fala quanto à constituição do que ele chama, por esses motivos, de “intelectual orgânico”, ou seja, aqueles que são constituídos devido a toda essa influência.

Os intelectuais orgânicos, tratados por Gramsci, seriam aqueles oriundos da classe a qual eles pertencem, e nessa obra ele trata deste intelectual, principalmente o que se origina da classe operária, por essa ser a maior classe constituinte das sociedades, assim como em outras classes que também tem os seus intelectuais, seria o intelectual da classe operária aquele que teria uma formação diferente das outras classes, afinal, estes intelectuais têm uma formação dita pelo autor como sendo uma formação que manteria a condição de dominante em relação a essa superestrutura da classe dominante, que poderia se fazer uma analogia com o autor brasileiro Paulo Freire, que em sua extensa obra literária a respeito de pedagogia descreve sobre a “pedagogia bancária1”, na qual o aluno é depositário de um tipo de conhecimento que serve para repetição e manutenção do sistema que já se faz presente. O contrário disso é visto no intelectual orgânico que tem a sua “formação” na condição de ser participante dos partidos de esquerda e que deve manter a sua participação junto à classe da qual este intelectual se originou, e considerar-se como alguém que é independente das suas origens e pudesse prosseguir em desenvolvimento próprio. O intelectual orgânico tem de ser aquele que deve, por motivo de sua origem, manter-se integro e não se deixar corromper pelo contato sofrido com os outros intelectuais que tem origem na formação tradicional da sociedade.

O que se percebe em seus escritos, nesta obra, é como se fosse algo da aparência de uma conclamação aos “intelectuais de todas as partes do mundo a se unirem” com o intuito de uma interação que possa provocar uma união de culturas e interesses trabalhistas, para que se ocorra a melhoria de todas as sociedades, por esses mesmos intelectuais.

O autor também faz, em sua obra, a demonstração das maneiras de como as manifestações intelectuais podem se apresentar, através da imprensa por exemplo, onde esta, é analisada pelo autor como uma nova forma de divulgação de idéias, e que deve ser vista com cerrtaprecaução devido a “utilidade” que pode ser dada a esta maneira de comunicação e divulgação de idéias.

Quando Gramsci suscita esta conclamação, ele nos faz pensar sobre as diversidades culturais que poderemos encontrar em todas as regiões, e em relação a tais diversidades, o intelectual deve de ser cauteloso quanto às observações que por ele serão feitas, devemos não nos esquecer de que esta característica de diversidade é o que nos faz ser humano.

Fazendo um paralelo entre o que está escrito por Gramsci com a condição de professor, inserido na realidade brasileira, teremos um farto material a ser analisado, onde o professor pode ser visto como novo aspecto de intelectual na realidade nacioal, afinal, esta classe compõe uma espécie de profissional que tem a sua origem em classes diversas da sociedade, o que dificulta um tanto a sua análise como sendo apenas de uma origem, dificultando um tanto o aspecto do intelectual orgânico, tal como descrito pelo autor, em face de que a sua origem diversificada e sua função social faz com que ele se torne parte de uma classe contrária da qual se tem origem, e também, de certa forma o professor terá a necessidade de cohnhecimentos dos quais somente através das Universidades, que são grandes centros de manutenção da classe dominante com o aspecto depositário de educação, que manteria a condição de dominação.

O professor brasileiro quando consegue fazer o seu trabalho, ele é visto dentro da nossa sociedade como uma categoria diferente de intelectual, onde ele é um tipo de intelectual que não tem o devido reconhecimento dentro das diversas esferas que compõe esta sociedade.

Quando se tratando da classe da qual ele é o educador, este é visto, por alguns, como uma pessoa que deveria ser valorizado pela sua intelectualidade, e nessa mesma classe ele encontra pessoas que o vêem como alguem que por não ter o reconhecimento de sua intelectualidade, ele passa a aer ivsto como um tipo de exemplo a não ser seguido, em função das condições em que ele é posto pelo Estado, o mesmo que não respeita àquele que alcançou um grau tão grande de conhecimento como então ser possível que aquele que não tem qualquer perspectiva de alcançar o mesmo grau de conhecimentop se ver reconhecido e valorizado.

O contrário, em relação a esta primeira classe, é o que se vê na segunda classe social brasileira, que tem o acesso a educação, assim como tem o real conhecimento da realidade em que sobrevivem os professores brasileiros, mas que não fazem nada que possa permitir as condições de melhora das classes as quais estes professores pertencem, sejam as classes social e trabalhista, mesmo que para Gramsci, o princípio de alteração se de através destes intelectuais, mas que devemos pensar de uma maneira realista a condição do acumulo de capital em nossa sociedade é pertencente a poucos e esse pouco é a mesma classe que já foi dita, como a que apenas tem necessidade de acúmulo do conhecimento, para que se mantenha como a classe que permanecerá no controle de determinados setores da sociedade.

Também enfrentando o problema de que a falta de apoio no Estado, de quem está na condição de constituinte do sistema de poder, são pessoas que não possuem o devido conhecimento para que lá estejam, mas devido o sistema de eleição ao qual não se obtêm um transparente resultado de apuração, ou como ser o professor, exemplo, em um país que produz celebridades instantâneas que gravam em um inglês que todos, inclusive a sua inventora desconhece, jogadores de futebol que recebem milhões em moedas estrangeiras, grupos musicais efêmeros que se tornam referências, mas que mesmo assim são valorizados.

O professor brasileiro, precisa, desta forma, ser alguém que faça um duro e complicado trabalho de observação da sua condição dentro da realidade na qual está inserido, seja como profissional de uma classe que obtêm uma condição de ascensão intelectual pelo fato assim visto, seja como aquele que mesmo obtendo o seu grau de intelectualidade não pode através deste ser reconhecido na classe da qual é oriundo ou se reconhecido não ser exemplo como alguém que alcançou, por tal, o reconhecimento do Estado, e mais parecer como um órfão que não só precisa de apoio como não tem a quem recorrer.


1 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 45ª ed., 2005.   

27/11/2012

METAS E MITOS NA REDE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO RJ

Por Caio Andrade Bezerra da Silva*


“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário” George Orwell

Desde fins de 2010 à frente da Secretaria de Estado de Educação do RJ (SEEDUC), o economista Wilson Risolia vem promovendo um conjunto de ações polêmicas no bojo do que apresenta como planejamento estratégico. São medidas que dizem respeito a vários aspectos, tais como a remuneração dos profissionais, os processos de avaliação, “atualização” de professores, seleção para cargos de confiança, currículo mínimo, etc.

Obcecado pela ideia de elevar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) fluminense, o secretário, com o auxílio de um séquito crescente e fenomenal aparato burocrático, tem atuado firmemente no sentido de consolidar sua ideologia no modus operandi pedagógico do estado, em estreita vinculação com o projeto educacional do Banco Mundial – largamente difundido também na rede municipal carioca, além do estado de SP, nos EEUU, Chile e onde mais os governantes cumprem a cartilha em questão, lançando mão do velho expediente de apresentar interesses particulares como se fossem universais.

Para tanto, a equipe do famigerado governador Sérgio Cabral na SEEDUC age de modo a camuflar sua estratégia enviesada sob uma roupagem apenas aparentemente neutra, técnica, encoberta por estatísticas, resultados, etc. Só a partir deste contexto é possível entender como estão sendo criados diversos mitos (e metas) no âmbito da educação pública do Rio de Janeiro, mitos estes incorporados ingenuamente e intensamente reproduzidos por significativas parcelas dentre suas próprias vítimas: os trabalhadores da educação, sobretudos alguns milhares de professores e professoras.

À primeira vista, o eminente planejamento estratégico do governo para a educação visa estabelecer profundas melhorias no setor. Todavia, é preciso examinar as ações em destaque um pouco mais de perto... vejamos, por exemplo, o caso da política de bonificação por resultados. Segundo a SEEDUC, “o sistema de bonificação vai recompensar os servidores da educação por bons resultados e trabalho em equipe”. Consiste em uma “remuneração variável, de acordo com o desempenho da unidade escolar”.

Trata-se de uma política muito simpática, dialogando demagogicamente com o senso comum, acionando um raciocínio extremamente sedutor: não é justo que os profissionais mais aplicados ganhem a mesma coisa em relação aos menos aplicados. Sem entrar no mérito desse argumento, isto é, independentemente de ele ser ou não correto, há um imenso abismo entre intenção e gesto. Ou seja, os tais indicadores a partir dos quais se pretende mensurar o “desempenho escolar”, nem de longe retratam o comprometimento, o esforço ou, simplesmente, a quantidade de trabalho dos profissionais da educação.

Por dois motivos, pelo menos. Primeiro, porque, em educação, o comprometimento dos servidores não deve ser confundido com a adesão subserviente e irrefletida à concepção pedagógica do governo da ocasião. Segundo, porque é notório que a rede estadual é coalhada de desigualdades internas, isto é, as escolas estão situadas em comunidades mais ou menos empobrecidas, com diferentes níveis de acesso à cultura, diversos graus de violência, degeneração humana, históricos e condições de vida em geral.

Em vez de respeitar a pluralidade de métodos e fomentar o debate filosófico-político-pedagógico, condições indispensáveis à formação para a consciência crítica, Risolia impõe o pensamento único mediante chantagens pecuniárias, pagando “bônus” somente a quem cumprir suas exigências, atendendo exclusivamente à sua visão sobre qualidade de ensino. Ademais, no lugar de promover o aprofundamento sobre as vidas concretas dos diferentes alunos, o mergulho na realidade das comunidades escolares, o conhecimento das distintas situações para entender suas demandas, seus limites, suas possibilidades e, a partir daí, estabelecer práticas mais profícuas e dotadas de sentido específico, o economista secretário vê a educação em números, aplicando procedimentos padronizados, com véu asséptico, à revelia das necessidades sociais.

A cartilha oficial que versa sobre esse tema afirma dentre seus objetivos “estimular a produtividade”. O que é produtividade na escola?! Política educacional séria não é prometer milagres estatísticos, de um dia para o outro. Isso é um insulto à nossa inteligência, cinismo deslavado, vendido como técnico e imparcial! Os países que hoje se destacam em termos de educação pública são aqueles que têm propostas autônomas e de longo prazo, de acordo com suas realidades, justamente os que não se dobram às chantagens financeiras impostas pelo Banco Mundial, com supostas receitas mágicas. Vejam os exemplos de Cuba, Venezuela e Bolívia, as conquistas realizadas por esses povos no que tange à educação pública. Não há máscara ideológica capaz de resistir ao fato de que esses países são territórios livres do analfabetismo, como reconhece a própria Unesco.

* Docente da Rede Estadual, membro da direção do SEPE Núcleo Duque de Caxias e militante da Unidade Classista/ PCB. 

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13 livros de Fernando Pessoa para download gratuito

No 76º aniversário da morte de Fernando Pessoa, a Universia Brasil separou 13 obras do escritor e poeta português disponíveis em dominio público para download gratuito.

Os livros foram retirados do portal Dominio Público, biblioteca digital mantida pelo Ministério da Educação. Entre a selação estão inclusive obras de dois de seus heterônimos: Alberto Caeiro e Bernardo Soares, autores fictícios que possuem personalidade.
 

Veja a seguir as obras de Fernando de Pessoa para download:

 

Cancioneiro - Fernando Pessoa

 

Mensagem - Fernando Pessoa

 

O Banqueiro Anarquista - Fernando Pessoa

 

O Eu profundo e os outros Eus - Fernando Pessoa

 

Poemas de Fernando Pessoa - Fernando Pessoa

 

Poemas Traduzidos - Fernando Pessoa

 

Poesias Inéditas - Fernando Pessoa

 

Primeiro Fausto - Fernando Pessoa

 

Poemas em Inglês - Fernando Pessoa

 

O Guardador de Rebanhos - Alberto Caeiro

(heterônimo de Fernando Pessoa)
 

O Pastor Amoroso - Alberto Caeiro

(heterônimo de Fernando Pessoa)
 

Poemas Inconjuntos - Alberto Caeiro

(heterônimo de Fernando Pessoa)
 

Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares

(heterônimo de Fernando Pessoa)
 
  Fonte: Universia Brasil
 

Agravamento da crise da Unifesp

Brasil - Carta Capital - Está longe de ser equacionada a crise da Unifesp. Essa afirmação não é retórica. Além de fazê-la sob as advertências do mestre austríaco que falava dos riscos aos quais nos expomos quando não prestamos atenção aos caprichos de sua majestade, o eu, faço-a com base em alguns fatos alarmantes


Na última reunião da Congregação da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH), dia 12.11.2012, presenciou-se algo deletério. A Congregação, que havia decidido fazer uma consulta à comunidade da EFLCH a respeito de sua permanência ou não no Bairro dos Pimentas – Guarulhos, votou o modo como será feita essa consulta. Diante da derrota de uma das propostas (que defendia a posição minoritária dos docentes e majoritária dos funcionários e estudantes), o vereador do PT de Guarulhos, Rômulo Ornelas, diretor do Cursinho Popular dos Pimentas, adentrou a sala gritando palavras de baixo calão, fazendo gestos de "banana" e agredindo aqueles que ele chamava de docentes "elitistas". Chegou ao cúmulo de ameaçar o presidente da Congregação, acusando-o de golpismo e dizendo que seria melhor ele se cuidar, não andando pelas ruas do bairro!

Tão grave quanto essa atitude destemperada foi o suporte dado ao vereador pelos estudantes presentes. Alguns deles já haviam, durante a reunião, dito palavras de ordem e desqualificado moralmente os docentes contrários à sua posição.

Entretanto, o horror da avalanche que ameaça não apenas a Congregação da EFLCH mas a própria autonomia da faculdade não parou por aí. No mesmo dia 12, à noite, houve uma audiência pública do atual reitor, Walter Mana Albertoni, e representantes do MEC e da Prefeitura de Guarulhos com membros da EFLCH e dos movimentos sociais da cidade. Houve simplesmente uma fala orquestrada segundo a qual a EFLCH não sairá de onde está, por razões como, por exemplo, o "contrato do MEC com a prefeitura", os benefícios sociais levados ao bairro pela instalação do campus, e, sobretudo, a inutilidade do debate em torno da permanência ou não da EFLCH no Bairro dos Pimentas, visto que os docentes, quando prestaram concurso para a Unifesp, sabiam que "o campus era no Pimentas".

Essa última razão apareceu repetidas vezes na fala do reitor durante a audiência e constitui um de seus argumentos principais para, por exemplo, dizer que, tão logo seja encerrada a licitação em curso, ele assinará de pronto o contrato com a empreiteira vencedora. Em sua justificativa, esse seria seu "dever". Todavia, essa fala do reitor permite perguntar se, recorrendo ao dever burocrático e ao "concurso para os Pimentas", não subjaz a ela uma desqualificação da Congregação e dos docentes em geral. Afinal, por um lado, sua atitude não reconhece o fato político legitimamente criado pela Congregação da EFLCH, qual seja, a instalação do debate em torno da permanência no Pimentas. Para bem ou para mal, agradando ou desagradando, cabe à Congregação decidir sobre fatos do gênero. Qualquer interferência nesse âmbito representa um desrespeito à sua autonomia. Além disso, qual seria o sentido de o reitor pretender tomar, nos estertores de seu mandato (ele deixa o cargo em fevereiro de 2013), uma decisão dessa magnitude, engessando as atitudes de seu sucessor e – repita-se – ignorando o debate em curso e a crise da EFLCH e da Unifesp?

Há quem pergunte – não sem certa razão – se o atual reitor não estaria personalizando o debate e dando uma demonstração de poder contrapoducente. Há quem pergunte ainda, nos corredores da universidade, se ele não estaria encarnando algo como uma espécie de revanche contra a reitora eleita, a qual seria de ideologia bastante distinta da sua e daquela dos atuais quadros de poder da Unifesp. Não é simples avaliar essa hipótese. Mas os indícios de caráter "punitivo" de certas atitudes do atual governo universitário abrem brechas para especulação... Seja como for, os grupos mais habituados ao poder na Unifesp deram-se conta de que, para continuar a participar do governo da universidade, terão agora de compor forças com os novos campi, principalmente com o da EFLCH, esteja ela onde estiver. Se é assim, colaborar para que os docentes da EFLCH "mofem" no Pimentas (expressão de um figurão da Vila Clementino) pode, infelizmente, ser mais do que mera hipótese... Além disso, chama atenção o fato de estudantes presentes à última reunião da Congregação já gritarem palavras de ordem contra a nova reitora eleita...

No tocante ao argumento do "concurso para o Pimentas", eis algo difícil de não problematizar... Se ele fosse decisivo, invalidaria as realocações e mudanças que a própria lei brasileira garante aos funcionários públicos. O que explicaria, por exemplo, que docentes da UNESP de Assis tenham sido alocados na UNESP de Marília? Ou que alguns da UNESP de Araraquara fossem transferidos para a UNESP de São Paulo? Raciocinando pelo absurdo, pensemos o seguinte: no caso dos Pimentas, o que aconteceria se o bairro deixasse de existir? Os docentes da EFLCH seriam exonerados? Além disso, os docentes foram acolhidos na Unifesp num quadro bem diferente do atual: havia 400 alunos, 50 docentes, muito idealismo (para fundar um "campus na periferia", como todos dizíamos) e a promessa de que, entre 2008 e 2010, as instalações estariam prontas. Foi-se a reitoria do Prof. Ulysses Fagundes Neto, cheia de percalços aliás, entrou a do Prof. Albertoni, passaram-se seus anos, ele se prepara para deixar o cargo, mas não há prédio nenhum, sequer um prédio alugado para abrigar a EFLCH enquanto se fazem as instalações definitivas; os alunos passaram a mais de 2500, os docentes quadruplicaram, os técnico-administrativos praticamente quintuplicaram, mas a crise só faz agravar-se. O governo da atual reitoria apresentou clara falta de vontade política e explícita inabilidade para encaminhar soluções aos problemas da EFLCH e dialogar com docentes e estudantes. No entanto, quer determinar os rumos da EFLCH em um quadro do qual ele se desvincula dentro de dois ou três meses.

É de perguntar também se a representante do MEC, presente na citada audiência pública, agiu bem ao falar em nome do ministério e dizer que este nunca autorizará nenhuma mudança de local à EFLCH. Trata-se de outra postura autoritária que a comunidade universitária, por princípio, deve rechaçar. Ademais, o recurso ao MEC tornou-se, nas últimas semanas, uma espécie de estratégia com fundamento quase metafísico, empregada por quem não deseja ver a continuidade desse debate, como se o ministério pudesse passar um rolo compressor sobre a EFLCH e sua Congregação. Em que imaginário estamos? É um dado elementar da autonomia universitária que nenhum organismo interfira sobre suas decisões acadêmicas. Ora, se a Congregação da EFLCH instalou, legal e legitimamente, o debate sobre a permanência da EFLCH onde está, não pode um representante ministerial pretender sobrepor-se a ela. Poderia, no máximo, para respeitar acordos com a prefeitura local, dizer que a Unifesp não pode fechar seu campus em Guarulhos, mas nunca dizer que esse campus é o lugar onde a EFLCH está fadada a permanecer. Observação periférica: é curioso que docentes normalmente tão críticos do MEC, e mesmo alguns estudantes, adotem agora a ameaça da punição do ministério... Conclusão possível: ou há um equívoco geral ou há mais coisas no céu do que avião da PanAir... O próprio Prof. Albertoni, em fala ao jornal O Estado de São Paulo, mostrou a possibilidade regulamentar de que uma unidade da Unifesp mude de lugar ou se desmembre, desde que siga um processo de acordo da congregação local com a congregação da unidade para onde pretende ir. Essa fala foi um ato nobre, voltado para os interesses da Unifesp e da vida universitária brasileira. Agora, porém, sua atitude permite perguntar por seu sentido, sobretudo quando se fala tanto de sua personalização do debate e mesmo de disputas por influência. Há mesmo quem diga que sua reitoria favoreceu uma "adolescentização" da concepção de universidade na Unifesp (haja vista, por exemplo, como se diz, as ações pueris de certos representantes e organismos da universidade, incluindo certas pró-reitorias; ou mesmo a tecnicização pedagógica consagrada por certos especialistas que ocupam cargos de confiança na administração universitária).

Em outro sentido, já é de conhecimento da comunidade da EFLCH que uma das propostas aventadas pela atual reitoria consiste na compra do prédio do CEU-Pimentas, que fica ao lado do atual campus da EFLCH. As consequências seriam desastrosas, não apenas porque o CEU é insuficiente para acolher a EFLCH, mas sobretudo porque representará a extinção de um espaço que é de acesso à população do Bairro dos Pimentas. A EFLCH, quando foi instalada lá onde está hoje, já fez sair uma escola que havia no local. E tudo por decisão de gabinente; a população local nunca pediu que isso fosse feito. Como muita gente diz no bairro, a maioria da população só passou a saber que havia um campus universitário no Pimentas "quando as brigas começaram a acontecer". Agora, por novas decisões políticas de gabinete, quer-se decidir sobre os rumos de uma unidade da Unifesp cujas dimensões boa parte dos próprios unifespianos sequer imagina; e, mais grave, roubando à população do Pimentas um dos seus lugares públicos de convivência educacional e cultural.

Num sentido que infelizmente fortalece essas ações vai a falta de articulação política da maioria dos estudantes da EFLCH. Isso não quer dizer que eles não tenham posição política, mas que não têm conseguido organizar-se em reação eficaz à posição que muitos deles mesmos consideram violenta em seus colegas do Movimento Estudantil. Em diferentes tentativas, esses alunos foram abafados por gritos, pulos e bumbos, como dizem. Nas próximas eleições para representação estudantil, por exemplo, precisam votar em massa, seja para reeleger atuais representantes, seja para eleger outros. O que é antiprodutivo é que poucos se manifestem, permitindo que se conserve uma posição de controle sobre a expressão do que pensam os outros estudantes. Postura análoga é esperada na consulta sobre a permanência da EFLCH no Pimentas, inclusive para que saibamos com mais exatidão o que o segmento estudantil – tão prejudicado pelo transporte e pela dificuldade de permanecer no campus – realmente pensa.

De certo modo, isso também vale para os docentes, pois há boa parte deles não envolvida com o debate sobre a permanência, menos ainda a par da degradação política a que a Congregação tem sido exposta.

Infelizmente, mesmo tratando-se de uma instituição universitária, encontramos autoritarismo, desrespeito às diferentes visões de mundo, desqualificação moral dos interlocutores, ameaças, inércia, personalizações etc.

Essa crise não é da EFLCH; é da Unifesp.
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Assentamento Milton Santos: “Nós não vamos sair nem os pedaço”






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Assista o vídeo com trechos da conversa que os assentados do Milton Santos, e apoiadores desta luta, tiveram com os representantes da Secretaria Nacional de Políticas Sociais do Governo Federal em relação à ameaça de despejo.

Para saber mais, veja os textos publicados aqui e aqui
Acesso o site do Assentamento Milton Santos
Assine o abaixo assinado.
Fonte: Passapalavra.

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26/11/2012

Resultado do ENEM

O número de escolas públicas entre as 100 melhores do Enem caiu entre 2010 e 2011. No ano passado, apenas dez conseguiram ficar entre as 100 com maior média geral – duas estaduais e oito federais. Em 2010, 13 escolas da rede pública figuravam na lista. Entre as dez primeiras, apenas o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (Coluni) representa a rede pública de ensino.

Neste ano, 77 das 100 escolas com maior média geral estão na Região Sudeste. São Paulo é o estado com o maior número delas (31), seguido do Rio de Janeiro (23) e Minas Gerais (20). As demais escolas estão no Nordeste (15), Centro-Oeste (5) e Sul (3). Nenhuma escola da Região Norte ficou entre as 100 melhores na edição de 2011 do Enem. 
RESULTADO DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE SÃO GONÇALO
A média da nota geral das 10.076 escolas que tiveram pelo menos 50% de participação de seus alunos no Enem 2011 foi de 519,08. Entre as 100 melhores, porém, a média da nota final sobe para 672,53. Já as dez melhores escolas tiveram, em média, a nota 712,17. O Colégio Elite Vale do Aço, de Ipatinga, teve a melhor média na prova de redação entre todos os colégios com pelo menos 50% de participação. A média dos 27 alunos da escola que fizeram a prova foi de 830,37.

Entre as escolas estaduais que aparecem mais bem colocadas no ranking, a maioria é colégio técnico, ou ainda, está ligada a uma universidade e não faz parte da rede pública regular de ensino. É o caso do Instituto de Aplicação da Universidade do Estado do Rio (Uerj) que é a escola estadual com melhor pontuação (664), do colégio técnico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (645) e de duas unidades de colégio técnicos ligados à Universidade Estadual Paulista (Unesp), um localizado em Bauru (642) e outro em Guaratinguetá (633) que tiveram as melhores desempenho da rede estadual.

fonte: G1
 Disponível com resultados das escolas de CABO FRIO no Blog PÓ DE GIZ
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24/11/2012

Fiocruz: crianças internadas não tem acesso a educação

Brasil - Vermelho - Desde 1995, a legislação brasileira reconhece o direito de crianças e adolescentes hospitalizados ao acompanhamento pedagógico-educacional. É obrigação dos sistemas de ensino e de saúde municipais e estaduais organizar o atendimento educacional especializado para estudantes impossibilitados de frequentar as aulas por motivos de saúde.


De acordo com profissionais da área, passados 18 anos, a classe hospitalar - nome da modalidade de ensino que possibilita esse aprendizado nos hospitais - ainda não se tornou realidade para a maioria das crianças e adolescentes com doenças crônicas.

Para a coordenadora do Núcleo de Apoio a Projetos Educacionais e Culturais, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Magdalena Oliveira, a classe hospitalar ainda "engatinha" no Brasil, sobretudo no preparo dos professores.

"A rede hoje precisa de uma estrutura mais ampla para atender essas crianças de forma mais integral. Falta tempo para o professor estudar. A grande maioria dos cursos é paga e a classe é absolutamente discriminada, com um dos piores salários do país. Faltam professores para dar uma atenção diferenciada a essas crianças e adolescentes," disse.

Na capital fluminense, dez hospitais contam com o apoio de professoras municipais, resultado de parcerias da prefeitura com as instituições de saúde.

O governo do estado do Rio informou que ainda não oferece classe hospitalar, mas que o projeto está sendo discutido na secretaria de Educação.

O Ministério da Educação não soube informar o número de hospitais no país que oferecem classe escola. Por meio de nota informou apenas que o atendimento em classes hospitalares é ação intersetorial organizada entre as secretarias de Educação e Saúde de cada estado ou município, conforme demanda existente

Dados do Censo 2010 mostram que o Brasil tem hoje mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência: quase um quarto do total da população. Não existem dados específicos sobre doenças crônicas, de acordo com médicos da área.
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Governo do PSDB de Minas Gerais proíbe eleição de sindicato dos professores



São João del Pueblo - [Alex Lombello Amaral] O governo de Minas, incapaz de formar chapa do PSDB para o Sind-UTE, apelou para a repressão, e está tentando proibir as eleições desse sindicato de acontecerem na data marcada.

Leia reportagem no site do sindicato sobre o caso aqui.


Essa proibição exorbita em muito os poderes do governo estadual, é completamente inconstitucional e não passa de uma provocação inútil que revela a histeria desse governinho. O Brasil tem o governo da União, e os governos municipais. Será que ainda precisamos sustentar os governos estaduais? Quando foi que o Brasil conseguiu ser uma federação? A unidade brasileira é um fato louvável, raro, que devíamos aproveitar como forma de economia.

O que são greves de professores de redes estaduais de 4 oakbrook payday loan 6 ensino? São lutas entre os professores e os políticos pelo dinheiro que devia ser todo da educação. Quando um governo enfrenta seus professores isso só pode significar uma coisa, é que ele não quer dar mais dinheiro para a educação! Os políticos querem ficar com o dinheiro, e querem manter baixos os salários dos professores porque seus sócios são também donos de escolas particulares, e quando se elevam os salários da rede estadual, também sobem os da rede particular.

Os salários dos professores dos estados governados por tucanos são tão baixos que as greves acontecem normalmente de dois em dois anos. Aos poucos, muito devagar, os funcionários públicos estão aprendendo a lidar com o patrões políticos, entendendo que deles é necessário tirar votos, não somente dar prejuízos financeiros. Embora ainda seja muito pouco o poder de fogo usado pelo Sind-UTE na última greve em Minas, o governador parece incomodado. Mais ainda, ele parece estar desesperado por conta das eleições de 2014, apavorado com a ideia de uma greve em 2013 ou 2014.

Coisa engraçada, os tucanos tentaram montar uma chapa para o Sind-UTE! Não só na esquerda existem lunáticos! Como não conseguiu, o governo está tentando proibir as eleições, o que só vai gerar repulsa na categoria e união no sindicato.

Esse assunto me lembra uma questão que vi levantada por um monarquista no final da monarquia, defendendo que os municípios e no caso dele, o Império, deviam ser fortalecidos, não as províncias. Na época isso era um sonho distante. Para se manter unido, o Brasil precisava da experiência federativa, porque os estados eram muito mais diferentes uns dos outros do que hoje.

As diferentes regiões brasileiras continuarão sendo muito diferentes entre si, e isso não pode ser esquecido, mas o que significa a federação no Brasil de hoje? Significa não a autonomia dos estados, não que os estados consigam cuidar de seus próprios problemas, mas somente a existências de governos estaduais, com câmaras legislativas estaduais, tribunais estaduais etc. E o que fazem esses governos? Reduzem os professores, enfermeiros e fast cash loans policiais à miséria de forma que a educação pública, a saúde pública e a segurança pública sejam um fracasso.

É hora de começar a dizer aos governos estaduais o quanto eles são inúteis e dispensáveis, e que podiam se comportar melhor para se fazerem mais toleráveis pela população.

Alex Lombello Amaral é membro do PCB em Minas Gerais.
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16/11/2012

Zumbi Vive!

Escrito por Mario Maestri   



LATUFF
Em 20 de novembro de 1695, Nzumbi dos Palmares caía lutando em mata perdida do sul da capitania de Pernambuco. Seu esconderijo fora revelado por lugar-tenente preso e barbaramente torturado. Mutilaram seu corpo. Enfiaram seu sexo na boca. Expuseram a cabeça do palmarino na ponta de uma lança em Recife. Os trabalhadores escravizados e todos os oprimidos deviam saber a sorte dos que se levantavam contra os senhores das riquezas e do poder.

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Em 1654, com a expulsão dos holandeses do Nordeste, os lusitanos lançaram expedições para repovoar os engenhos com os cativos fugidos ou nascidos nos quilombos da capitania. Para defenderem-se, as aldeias quilombolas confederaram-se sob a chefia política do Ngola e militar do Nzumbi. A dificuldade dos portugueses de pronunciar o encontro consonantal abastardou os étimos angolanos nzumbi em zumbi, nganga nzumba, em ganga zumba. A confederação teria uns seis mil habitantes, população significativa para a época.

Em novembro de 1578, em Recife, Nganga Nzumba rompeu a unidade quilombola e aceitou a anistia oferecida apenas aos nascidos nos quilombos, em troca do abandono dos Palmares e da vil entrega dos cativos ali refugiados ou que se refugiassem nas suas novas aldeias.

Acreditando nos escravizadores, Ganga Zumba deu as costas aos irmãos de opressão e aceitou as miseráveis facilidades para alguns poucos. Abandonou as alturas dos Palmares pelos baixios de Cucuá, a 32 quilômetros de Serinhaém. Foi seduzido por lugar ao sol no mundo dos opressores, pelas migalhas das mesas dos algozes.

Então, Nzumbi assumiu o comando político-militar da confederação.

Para ele, não havia cotas para a liberdade ou privilegiados no seio da opressão! Exigia e lutava altaneiro pelo direito para todos!

Não temos certeza sobre o nome próprio do último nzumbi que chefiou a confederação após a defecção de Nganga Nzumba. Documentos e a tradição oral registram-no como Nzumbi Sweca.
***
Nos derradeiros ataques aos Palmares, as armas de fogo e a capacidade dos escravistas de deslocar e abastecer rapidamente os soldados registravam o maior nível de desenvolvimento das forças produtivas materiais do escravismo, apoiadas na superexploração dos trabalhadores feitorizados. As tropas luso-brasileiras eram a ponta de lança nas matas palmarinas da divisão mundial do trabalho de então.

Não havia possibilidade de coexistência pacífica entre escravidão e liberdade. Palmares era república de produtores livres, nascida no seio de despótica sociedade escravista, que surge hoje nas obras da historiografia apologética como um quase paraíso perdido, onde a paz, a transigência e a negociação habitavam as senzalas. Palmares era exemplo e atração permanentes aos oprimidos que corroíam o câncer da escravidão.

Como já lembraram, nos anos 1950, o historiador marxista-revolucionário francês Benjamin Pérret e o piauiense comunista Clóvis Moura, a confederação dos Palmares venceria apenas se espraiasse a rebelião aos escravizados dos engenhos, roças e aglomeração do Nordeste, o que era então materialmente impossível.

Palmares não foi, porém, luta utópica e inconsequente. Por longas décadas, pela força das armas e a velocidade dos pés, assegurou para milhares de homens e mulheres a materialização do sonho de viver em liberdade de seu próprio trabalho. Indígenas, homens livres pobres, refugiados políticos eram aceitos nos Palmares. Eram braços para o trabalho e para a resistência.

A proposta da retomada da escravidão colonial em Palmares, com Zumbi com um “séquito de escravos para uso próprio”, é lixo historiográfico sem qualquer base documental, impugnado pela própria necessidade de consenso dos palmarinos contra os escravizadores. Trata-se de esforço ideológico de sicofantas historiográficos para naturalizar a opressão do homem pelo homem, propondo-a como própria a todas e quaisquer situações históricas.

Palmares garantiu que milhares de homens e mulheres nascessem, vivessem e morressem livres. Ao contrário, em poucos anos, os seguidores de Ganga Zumba foram reprimidos, reescravizados ou retornaram fugidos aos Palmares, encerrando-se rápida e tristemente a traição que dividiu e fragilizou a resistência quilombola.

A paliçada do quilombo do Macaco foi a derradeira tentativa de resistência estática palmarina, quando a resistência esmorecia. Ela foi devassada em fevereiro de 1694, por poderoso exército, formado por brancos, mamelucos, nativos e negros, entre eles, o célebre Terço dos Enriques, formado por soldados e oficiais africanos e afro-descendentes. Não havia e não há consenso racial e étnico entre oprimidos e opressores.

O último reduto palmarino, defendido por fossos, trincheiras e paliçada, encontrava-se nos cimos de uma altaneira serra.
***
A serra da Barriga e regiões próximas, na Zona da Mata alagoana, com densa vegetação, são paragens de beleza única. Quem se aproxima da serra, chegado do litoral, maravilha-se com o espetáculo natural.

O maciço montanhoso rompe abruptamente, diante dos olhos, no horizonte, como fortaleza natural expugnável, dominando as terras baixas, cobertas pelo mar verde dos canaviais flutuando ao lufar do vento.

Se apurarmos o ouvido, escutaremos os atabaques chamando às armas, anunciando a chegada dos negreiros malditos. Sentiremos a reverberação dos tam-tans lançados do fundo da história, lembrando às multidões que labutam, hoje, longuíssimas horas ao dia, não raro até a morte por exaustão, por alguns punhados de reais, nos verdes canaviais dessas terras que já foram livres, que a luta continua, apesar da já longínqua morte do general negro de homens livres.

Mario Maestri é professor do programa de pós-graduação em História da UPF.
E-mail: maestri(0)via-rs.net

FONTE: Correio da Cidadania

15/11/2012

Graciliano Ramos, um escritor comunista

Os 120 anos de Graciliano Ramos recebem o presente de O velho Graça, a biografia de um dos nossos clássicos, que em boa hora a editora Boitempo acaba de reeditar. Se os adjetivos não estivessem tão gastos, diria que esse é um lançamento oportuno e necessário. Mas em atenção a Graciliano, procurarei evitar o excesso de qualificações. E vamos ao trabalho.

Da velha edição de O velho Graça que tenho comigo, de 1992, é que retiro os trechos e reflexões que reúno agora. A primeira delas é que deveria haver no momento uma suspensão das notícias que são um alarido de baixa animalidade, que fazem passar as horas em um vazio sem fim, como as fotos da nudez da última celebridade ou o arremedo de justiça dos astros do STF, porque neste ano, mais precisamente no sábado 27 de outubro, é aniversário de Graciliano Ramos. Diria Camões “cesse tudo o que a musa antiga canta”, mas em relação ao noticiário, que musa? Melhor, esse “que musa?” soaria aos ouvidos dos repórteres como um “que música?”. E para evitar a musa que se confunde com música, vamos ao primeiro trecho que destaco da biografia O velho Graça, escrita por Dênis de Moraes:

“Na safra, aparecerão A bagaceira, de José Américo de Almeida; Menino de engenho, de José Lins do Rego; O país do carnaval e Cacau, de Jorge Amado; Os corumbas, de Armando Fontes; Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre.
Em artigo no Diário de Pernambuco, de 10 de março de 1935, sob o título O romance do Nordeste, (Graciliano Ramos) escreveu:
‘Era indispensável que os nossos romances não fossem escritos no Rio, por pessoas bem-intencionadas, sem dúvida, mas que nos desconheciam inteiramente. Hoje desapareceram os processo de pura criação literária. Em todos os livros do Nordeste, nota-se que os autores tiveram o cuidado de tornar a narrativa, não absolutamente verdadeira, mas verossímil. Ninguém se afasta do ambiente, ninguém confia demasiado na imaginação. (…) Esses escritores são políticos, são revolucionários, mas não deram a ideias nomes de pessoas: os seus personagens mexem-se, pensam como nós, sentem como nós, preparam as suas safras de açúcar, bebem cachaça, matam gente e vão para a cadeia, passam fome nos quartos sujos duma hospedaria.’”

Notem o quanto é impressionante como escritores tão distintos, José Lins, Graciliano Ramos, Jorge Amado, sem comunicação entre si, em estados e cidades diferentes, escrevam romances como se estivessem em um só movimento literário. Isso, que para os professores de cursinhos vestibulares, e até em certas cátedras universitárias, ganha feições de prato feito, é mais que coincidência. Esses homens inquietos não escreviam o que escreveram por método ou influência de escola estética. O que os unifica é o espírito do tempo, que no caso eram as ideias de esquerda, a influência socialista, o movimento comunista no Brasil, que refletia o eco de 1917, até mesmo em Palmeira dos Índios, onde vivia Graciliano. E neste ponto, de passagem, cabe uma brevíssima indicação, que deixo para o aprofundamento de estudiosos mais capazes: pensa-se que a influência do partido comunista se deu em suas estritas fileiras, ou, de outro modo, nos tenentes e movimentos de massa e de operários. Nada mais inexato. Na verdade, a partir de 1930 a força das ideias socialistas se alastrou no Brasil entre comunistas organizados, comunistas de simpatia (mas simpatia é quase amor, diz um bloco do carnaval do Rio), socialistas, e, de modo geral, em artistas que refletiam o povo brasileiro como se manifestassem uma nova independência. De certo modo, de certo modo, não, de todos os modos, o pensamento que avançou entre nós, da ciência à literatura, recebeu a fecundação do diálogo com o mundo de esquerda. De passagem ainda, mas em outro lugar, deveria ser observada a influência desses escritores nordestinos sobre a literatura dos africanos que se libertaram de Portugal.  

No momento, chamo a atenção para o que me parece um engano, que por força do hábito se tornou um gênero de texto. Penso em Vidas Secas, livro sobre o qual a pesquisa de Dênis de Moraes informa:
“Cem dias depois de ter sido posto em liberdade, Graciliano iniciaria um novo projeto literário. Escrevera um conto baseado no sacrifício de um cachorro, que presenciara, quando criança, no Sertão pernambucano… As opiniões favoráveis o incentivariam a prosseguir a história, esboçando o perfil dos donos de Baleia.  

O processo de composição do romance – o único que escreveu na terceira pessoa – seria, por razões de ordem financeira, dos mais originais da literatura brasileira. A conta da pensão e as despesas duplicadas com a vinda da família para o Rio o obrigariam a escrever os capítulos como se fossem contos. Era um artifício para ganhar dinheiro, publicando-os isoladamente em jornais e revistas, à medida que os produzia. Às vezes, republicaria o mesmo conto, com título alterado, em outros periódicos. Dos 13 capítulos, oito sairiam nas páginas de O Cruzeiro, O Jornal, Diário de Notícias, Folha de Minas e Lanterna Verde, além de La Prensa, de Buenos Aires…

Um romance desmontável, cujas peças podem ser destacadas para a leitura e seriadas de mais de uma maneira. Como telas de uma exposição que têm vida própria, independente dos demais”.
Mas Vidas Secas não é um romance! E as razões para isso vêm não só de ordem financeira, quero crer. Um romance exige – ainda que a sua realização seja rebelde a linhas de fronteira – algo mais que a repetição de personagens em diferentes relatos. Se assim fosse, A Comédia Humana, de Balzac, seria um só livro. No romance há uma organicidade de pessoas, digo, personagens, que crescem e se diluem em um destino em bloco. E de tal modo que as suas partes autônomas, ainda que seccionadas e vendidas como contos, ganham pleno sentido no conjunto. O todo é a iluminação do particular, no romance. No entanto, o magnífico relato da cachorra Baleia, que se uniu a páginas magistrais pelos personagens que o talento de Graciliano acrescentou, jamais teria unidade absoluta se pertencesse a um romance. Na verdade, Vidas Secas é uma vitória do gênio do escritor sobre as condições difíceis de tempo e lugar em que escreveu o livro, tanto pessoais quanto do Brasil da época. O valor de Vidas Secas não cai nem um bilionésimo, quando se nota nesse livro um exemplar conjunto de contos, em vez de um romance. E aqui, sobre a genialidade do artista, em mais de uma página da sua biografia recebemos lições:   

“A qualidade essencial de quem escreve é a clareza, é dizer uma coisa que todos entendam da forma que você quis. Para escritor que é de ofício autodidata, isso custa anos, porque não está na gramática, nem em livro algum”.

Muito Bom!!!! é o comentário mais ponderado que me ocorre. Muito bom! Para o escritor que é de ofício autodidata, escrever custa anos, porque não está na gramática, nem em livro algum, fala o mestre provado. Me acompanhem por favor: em que oficinas de literatura podem se formar escritores essenciais? Em que oficina de escritor se forma a vida? Em que oficinas, a seu modo laboratórios de bebês de proveta, se conseguirá a clareza que só a malhação fora das academias de todo tipo e gênero dá? Em que local se aprenderá a observação que o instinto e a mente e a experiência concebem?

Em Graciliano Ramos, se o compreendemos bem, há uma teoria da arte, há uma teoria da literatura, há uma lição de sabedoria que deveria ser luz para todo escritor digno do nome. Todos, novos e velhos, escritores livres ou escravos ladinos. Como neste passo, do diário de Paulo Mercadante, citado em O velho Graça:

“Graciliano falou de sua experiência. Escrever é um lento aprendizado, que se estende pela vida, é alguma coia que exige concentração e paciência. Muita paciência mesmo. Não se trata apenas de saber a sintaxe, de dominar um grande vocabulário, mas de ser fiel à ideia e domá-la em termos de uma precisão formal. Por isso, a experiência é essencial, só escapando dessa condição o poeta. Talvez com relação ao escritor haja uma conjugação, Graciliano concluiu, da pessoa como individualidade, do ponto de vista de uma psicologia determinada com o meio onde cresceu e viveu”.

Entendam. O entusiasmo que expressei na citação de Graciliano Ramos acima não significa que da sua escrita venha uma norma, uma lei que diga a um homem que deseje “apenas” (!) expressar o seu pensamento:

– Olha, fora deste caminho nenhuma salvação é possível.

Não é isso. Na literatura só existe uma regra: não existe regra. Na literatura só existe uma maneira, de todas as maneiras. O reconhecimento da grandeza de Graciliano não implica a busca do caminho único da escrita escorreita, limpa e enxuta do mestre. Pois como ficaria a gordura de José Lins? Em que plano assomaria o bolero em forma de letras de Gabriel García Márquez? Ou os torneios vocabulares de Proust? E os delírios de matar de Gogol? Não. Trata-se apenas de retirar da experiência curtida, no sentido de pele enrugada de muitos sóis, de Graciliano aquilo que serve a gordos e magros, altos e baixos, desbocados ou contidos. A saber: escrever é um lento aprendizado, que se estende pela vida, é alguma coia que exige concentração e paciência. Muita paciência mesmo.
E aqui, sem sair do capítulo da excelência da sua escrita, e como nem tudo são flores, entramos em um terreno mais pedregoso. Entramos no embate político do mestre, dentro do partido e fora dele, e no mesmo tempo, até como uma prova de que a vida partidária não é uma estufa. A sociedade e a história passam pelos partidos comunistas, onde quer que estejam. Refiro-me ao cume da obra de Graciliano Ramos, o Memórias do Cárcere. Para mim, a literatura política no Brasil tem um pico, cujo nome é Memórias do Cárcere. Até hoje, nada li melhor como retratos de homens comunistas no coletivo de um presídio. É curioso como até nas universidades não veem as Memórias como o melhor livro de Graciliano Ramos. Dizem: “não é ficção”, e com isso desprezam para a lata de lixo uma prosa madura, pedagógica, de denúncia, porque “não é ficção”. Mas Memórias do Cárcere é livro tão bom ou melhor que a sua melhor ficção. Da primeira edição que tenho, da Livraria José Olympio em 1953, com fac-similes do manuscrito e retrato do autor no desenho de Portinari, digitei com paciência há seis anos, para publicação no espanhol La Insignia, a página imortal que narra a deportação de Olga Prestes. Está aqui.
Pois bem, essa obra não se fez sem conflitos os mais sérios, mais particularmente com Diógenes de Arruda Câmara, o homem que seguia com rigor, digamos, excessivo a disciplina partidária. Diz o livro:
“Arruda pedira para folhear os originais de Memórias do Cárcere, aborrecendo-se, logo na primeira lauda, com a afirmação de que, no Estado Novo, ‘nunca tivemos censura prévia em arte’… No decorrer da reunião, cobrariam (Arruda, Astrojildo e Floriano Gonçalves) novamente a Graciliano o seu distanciamento do realismo socialista e a falta de vigor revolucionário de seus livros. Um dos presentes, em tom inflamado, diria que ele persistia num realismo crítico ultrapassado e citaria Jorge Amado como escritor empenhado em dar conteúdo participante a suas obras. Ao ouvir o nome de Jorge, Graciliano romperia o silêncio:
– Admiro Jorge Amado, nada tenho contra ele, mas o que sei fazer é o que está nos meus livros”.  
Conta o biógrafo que em outra oportunidade, anos antes desse dia, Diógenes, em uma reunião com escritores, entre os quais estavam Astrojildo Pereira, Dalcídio Jurandir, Osvaldo Peralva, e o próprio Graciliano, teria feito, segundo Dênis de Moraes, “uma apologia à literatura revolucionária, exigindo que os presentes se enquadrassem nos ditames zdanovistas. A certa altura, citaria como exemplo os poemas de Castro Alves, que a seu ver encaravam os problemas sociais numa perspectiva revolucionária. E o que era mais importante: com versos rimados” .  
E mais, em outro ponto da biografia:
“Em conversas posteriores com Heráclio Salles, ele enfatizaria a aversão ao romance panfletário.
– Nenhum livro do realismo socialista lhe agradou? – perguntaria o jornalista.
– Até o último que li, nenhum. Eu acho aquele negócio de tal ordem que não aceitei ler mais nada.
– Qual a principal objeção que o senhor faz?
– Esse troço não é literatura. A gente vai lendo aos trancos e barrancos as coisas que vêm da União Soviética, muito bem. De repente, o narrador diz: ‘O camarada Stálin…’ Ora porra! Isto no meio de um romance?!
Tomei horror.
– Não seria possível purificar o estilo do realismo socialista?
– Não tem sentido. A literatura é revolucionária em essência, e não pelo estilo do panfleto.
Não é de se admirar, portanto, que não tolerasse as fórmulas emanadas de Moscou. Ao tomar conhecimento do informe de Zdanov sobre literatura e arte, esculhambaria:
– Informe? Eu gosto muito da palavra, porque informe é mesmo uma coisa informe.”
A relação de Graciliano Ramos com o PCB, nos últimos anos, é conflituosa, aqui e ali em aberta crise. Mas se destaca nessa relação, por isso mesmo, uma expressão de grandeza do escritor, que não deixou a sua escolha pelo comunismo, mesmo em luta contra a estreiteza da direção na época. Nessa biografia emerge um comunista à velha maneira, à maneira que julgamos clássica, modelar, diferente de comportamentos de algumas militâncias que tudo se permitem, desde que para isso alcancem o poder. Olhem só como agia, e no que agia ele era, o comunista Graciliano Ramos:
“Recusava assinar artigos (no Correio da Manhã, onde trabalhava como revisor), alegando para os mais íntimos que não concordava com a linha editorial dos jornais burgueses. O máximo que admitia era colaborar com o suplemento literário. Relutava em aceitar aproximação maior com os proprietários do Correio da Manhã, embora mantivesse uma relação cordial com Paulo Bittencourt (o patrão). A ortodoxia política o levaria ao exagero de não comparecer ao jantar pelo aniversário de Bittencourt. A José Condé, que passava a lista de adesões, afirmaria:
– Não me sento à mesa com patrão. Todo patrão é filho da puta! O Paulo é o que meno conheço, mas é patrão.
No dia seguinte, Bittencourt se queixaria:
– Mas, Graciliano, como é que você me faz uma coisa dessas?
– Paulo, eu o repeito, mas você é patrão …
– Mas eu sou um patrão diferente.
– Não, Paulo. Todo patrão para mim é ..,
– … filho da puta. Já sei que você xingou minha mãe.
O comunista e o burguês acabariam rindo juntos.
Paulo Bittencourt gostava de provocar Graciliano por suas ideias socialistas. Quando o Correio da Manhã recebeu novas máquinas, Paulo o alfinetaria:
– Imagine se vocês fizessem uma revolução e vencessem. Todo esse parque gráfico seria destruído.
Graciliano o cortaria:
– Só um burro ou um louco poderia pensar isto. Se fizéssemos a revolução e vencêssemos, só ia acontecer uma coisa. Em vez de você andar por aí, viajando pela Europa, gastando dinheiro com mulheres, teria que ficar sentadinho no seu canto trabalhando como todos nós”.
Esse livro, O velho Graça, tem uma característica até hoje pouco destacada. Em vez da pura leitura de uma biografia, desperta no leitor uma simpatia profunda pelo biografado. Nele Graciliano Ramos cresce como escritor em uma rara empatia, como um irmão mais que amigo, ou como um amigo mais que irmão. Enfim, como um camarada, fraterno, admirável.
* Versão revisada pelo autor de artigo publicado originalmente no Vermelho
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O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos, de Dênis de Moraes já está disponível em versão eletrônica (ebook), por metade do preço do impresso na Gato Sabido , na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura
Leia aqui a orelha da nova edição, assinada por Alfredo Bosi, e a quarta capa, de Wander Melo Miranda. Confira, abaixo a programação dos debates e autógrafos de lançamento do livrono Rio de Janeiro (27/11) e em São Paulo (30/11)

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Urariano Mota é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. Atualmente, é colunista do Direto da Redação e colaborador do Observatório da Imprensa. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife (Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e Os corações futuristas (Recife, Bagaço, 1997). Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.

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14/11/2012

Florestan Fernandes: marxismo, ciência e revolução

A trajetória intelectual e política de Florestan Fernandes é objeto desta nova página de marxismo21. Dela constam textos do cientista social,  artigos de pesquisadores sobre aspectos de sua vasta obra,  entrevistas, vídeos e outros documentos. Publicamos abaixo um breve texto de Paulo Martinez, especialmente elaborado para o blog; nele, o historiador reflete sobre questões e desafios teóricos para se compreender a originalidade e a especificidade do pensamento político de Florestan Fernandes. Por sua vez, Caio N. de Toledo, um dos editores de marxismo21 examina um dos maiores desafios do trabalho intelectual de Florestan: articular a obra teórica e a militância político-ideológica na direção do socialismo revolucionário.  Talvez a significativa foto acima – na intimidade de sua oficina de trabalho -  contribua para questionar os intérpretes da obra de Florestan Fernandes que buscam dissociar a produção teórica de seu compromisso político; para estes hermeneutas, a obra seria rigorosa e científica, enquanto o engajamento estaria comprometido pela idealização utópica ou cativo das armadilhas da ideologia. Os Editores.


Democracia e socialismo

Florestan Fernandes

 A controvérsia suscitada pela Revolução Russa ainda não chegou ao fim, e ate hoje existem os que temem a supressão da democracia em troca da igualdade social. Ora, igualdade sem liberdade não corresponde ao ideário e à utopia do socialismo, tão bem encamados por Rosa Luxemburgo e Antonio Gramsci. Ao contrario de pensadores social-democratas ou marxistas, ambos compreenderam, como mais tarde o fariam Bobbio, Colletti e Gorz, que as condições de atraso econômico, cultural e político da Rússia pré-revolucionaria acarretavam consequências que impediam a conversão da ditadura do proletariado em uma forma mais avançada e completa de democracia. Tumultuosa e contraditória, ela teria de nascer da emergência do auto governo coletivo da maioria.

Desvendada resumidamente por Marx nos escritos de 1840, essa forma de democracia foi examinada com extrema objetividade e crueza na Crítica ao Programa de Gotha. Havia, no entanto, confiança no futuro e a certeza de que a revolução se desencadearia na Europa, irradiando-se em seguida para sua periferia e países coloniais, o que acabou se mostrando inviável.

Tanto Rosa quanta Gramsci julgavam que a estatização e a socialização dos meios de produção conduziriam aos ideais democráticos e igualitários do socialismo e do comunismo. Sua crítica é positiva: acreditavam nos sovietes – ou conselhos – e promoviam a exaltação de sua autonomia contra os desvios burocráticos, registrados por Lenin e, posteriormente, denunciados com veemência por Trotsky.

É interessante voltar a Rosa Luxemburgo, dolorosamente lúcida no ataque ao “revisionismo” e no diagnóstico da social-democracia. Sem o sarcasmo e a virulência de Lenin, ela se limita a desvendar as misérias do partido, no momento em que a liderança política e a burocracia aliavam-se contra a revolução, atraiçoando o socialismo,  fortalecendo as classes dominantes e conferindo legitimidade ao Estado capitalista. O Partido Social Democrático (SDP) mantinha a reverência por seus símbolos, bandeiras e valores marxistas. Simples fachada… Como letras mortas ou um poema sem encantos, o marxismo, o lassalleanismo e, mesmo, o bernsteinismo ficaram para trás. Esse processo de degradação aburguesada do socialismo e dos seus fundamentos teóricos e políticos não era localizado. Grassava por toda a Europa e repudiava sua corrente revolucionaria como pura verborragia. As dificuldades e a adulteração do marxismo, por causa do isolamento e das conseqüências imprevistas da Revolução Russa, conferiam uma aparência de verdade as versões da “democracia acima de tudo” emanadas do farisaísmo pequeno-burguês e intelectualista. Se, de fato, a democracia estivesse em jogo, ela jamais poderia ser dissociada do socialismo. Em relações compassivas e comprometedoras com a ordem existente, ser cruzado da democracia equivalia a abandonar o socialismo e atribuir ao capitalismo a faculdade de assegurar liberdade, igualdade e solidariedade juntamente com a perpetuação da propriedade privada, a expropriação do trabalhador dos meios de produção e a intangibilidade da sociedade civil. Tratava-se do avesso do que fora a social-democracia anteriormente, em especial ate o Kautsky revolucionário (do final do século XIX ate cerca de 1910).

Dois movimentos históricos simultâneos reforçaram, ampliaram e aprofundaram a tendência apontada. De um lado, a União Soviética necessitava de um “respiro histórico” para sobreviver através da coexistência pacifica, alternada com eclosões ocasionais de hostilidade programada com as nações capitalistas. As “frentes populares” puseram em primeiro plano a democracia como valor final. Deixaram a parte, porem, o questionamento fundamental: que tipo de democracia? A capitalista, que institucionaliza a classe como meio social de dominação e fonte de poder, ou a socialista, que deve tomar como alvo a eliminação das classes e o desenvolvimento da autogestão coletiva, passando por um período de dominação da maioria, tão curto quanta possível? De outro lado, a expansão do capitalismo – com um prolongado espaço de tempo de prosperidade, dissuasão policial-militar das divergências dos que poderiam ser representados como “inimigos” internos e externos, coalescência de um sistema mundial de poder e alternância de promessa e repressão – forjava novas condições de aburguesamento dos assalariados qualificados, dos intelectuais e da “solução negociada” dos conflitos por emprego, níveis de salários, padrões de vida ou oportunidades educacionais.

Pela própria impulsão das transformações democráticas da civilização, a “reforma capitalista do capitalismo” brotava como alternativa ao socialismo e como “via de transição gradual” ate ele. Willy Brandt personifica essa objetivação da liquidação da social-democracia como partido socialista stricto sensu. A presença norte-americana e aliada na Alemanha justificaria a evolução. Contudo, poderia, por si só, servir como ingrediente revolucionário, se o socialismo proletário marxista se tivesse mantido vivo no SDP. E o resto da Europa? Ali o processo ocorreu generalizadamente, o que implicava uma opção contra o socialismo revolucionário, em favor do aburguesamento. Essas considerações nascem de uma convicção: enfrentamos o perigo de ver abater-se sobre nós o restabelecimento da confusão entre democracia e socialismo. ler mais

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Florestan Fernandes: a vitalidade de um pensamento político

Paulo Henrique Martinez*

O pensamento político do sociólogo Florestan Fernandes guarda muitas possibilidades de reflexão e de desdobramentos investigativos. Conhecemos, hoje, inúmeros livros que estudam o conjunto de sua obra, esmiuçando aspectos e temáticas ali abordados – educação, metodologia, o negro, entre outros. Há também vários escritos sobre a sua trajetória biográfica e intelectual. São demonstrações da vitalidade desta reflexão sobre a sociedade brasileira construída na segunda metade do século XX.

Os olhos analíticos de Florestan Fernandes miram a realidade social passada e presente em duplo movimento de perspectivas. Uma habilidade camaleônica de observação, capaz de deter-se fixamente em um foco determinado, e de mobilidade do olhar que apreende múltiplas determinações na realidade interrogada. Florestan Fernandes denominou com precisão este procedimento analítico: histórico-sociológico.

Esta duplicidade na captação de sentidos sociais opera outra, a de perspectivas. Uma é cultural, imersa no ambiente dinâmico e criativo dos tempos de nacionalismo e das agruras do desenvolvimento econômico em nosso país. A outra é política e desponta das contradições sociais e dos antagonismos de classes que povoaram e deram densidade histórica à vida nacional até o triunfo ideológico do neoliberalismo entre nós, na década de 1990. Estas duplicidades operacionais de percepção comparecem em ações institucionais e políticas, pelo exercício da análise crítica e rigorosa, na universidade, e, a partir da ditadura militar, na avaliação do momento político veiculada na imprensa e alardeada em debates com diversificados movimentos sociais.

A bibliografia disponível sobre Florestan Fernandes elucida vários destes aspectos com maior ou menor riqueza de informações, registros e comparações. Ela nos alimenta com juízos críticos e aprofundados e permite a compreensão diacrônica e sincrônica de sua reflexão sociológica e histórica. Os esforços têm sido, predominantemente, compreensivos e explicativos dos contextos e das formulações intelectuais em dada obra ou conjunto delas, pesquisas ou momentos biográficos e de ação institucional.

O conhecimento histórico da organização da sociedade brasileira sugere a leitura da obra de Florestan Fernandes seguindo a via de seus estudos que assumiu vigor interpretativo e marcos teóricos precisamente demarcados sobre os dilemas da dominação de classes no Brasil. Esta organização de estudos conta com duas sugestivas iniciativas editoriais. A primeira é a reunião de quatro textos no volume publicado nos Estados Unidos, em 1981, sob os cuidados do historiador norte-americano Warren Dean, intitulado Reflections on the brazilian counter-revolution: essays (New York: M. E. Sharpe). A segunda é de 2008, com a publicação, em espanhol, da coletânea de textos organizada pela professora Heloísa Rodrigues Fernandes, Dominación y desigualdad: el dilema latinoamericano (Buenos Aires: Prometeo/CLACSO).

Os dois volumes em edição estrangeira foram compostos com textos publicados no Brasil, são conhecidos e não há ineditismo. A originalidade e o significado residem na reunião de escritos voltados para questões específicas e que respondem pela unidade temática destes dois livros: a contra-revolução, a dominação e a desigualdade social. Não temos, ainda, estas e semelhantes coletâneas com segmentação analítica específica, editadas aqui, particularmente sobre o pensamento político de Florestan Fernandes e suas análises sobre dos referidos dilemas da dominação social no Brasil.

As duas coletâneas são instigantes e instrutivas para o estudo deste pensamento político. Ambas revelam em Florestan um arguto analista dos processos de dominação e de contra-revolução. Este analista, e também aprendemos isso lendo os textos selecionados por Warren Dean e Heloisa Fernandes, é maior e prevalece sobre qualquer indício de um estrategista da ação política. Este componente não deriva da escolha dos textos. É, antes, consciente e deliberado no próprio autor dos escritos ali reunidos. O fato pode parecer contraditório a alguém que, como Florestan Fernandes, não escondia sua admiração intelectual e política por Marx, Engels e, sobretudo, Lênin.

Esta renúncia a qualquer ambição de direção teórica e política, por um lado, causou frustração a inúmeros militantes que, no PT ou fora dele, engajaram-se nas duas campanhas eleitorais para deputado federal que o sociólogo paulista disputou – e foi eleito em ambas – em 1986 e 1990. A reivindicação de um papel intelectual consistentemente definido em ação e reflexão, por outro lado, foi sustentada mesmo em momentos politicamente adversos, como a “Nova República”, a queda do muro de Berlim, o governo Collor e a segunda derrota eleitoral de Lula, em 1994. O lema adotado em sua campanha para a Assembleia Constituinte expressou com nitidez este papel: “contra as idéias da força, a força das idéias”. Alguns títulos dos livros que publicou durante estes anos reafirmavam este sentido e o compromisso da ação política do intelectual engajado nas disputas sob a orientação socialista, como sugerem Pensamento e ação: o PT e os rumos do socialismo (1989) e A contestação necessária (1995).

Pode-se argumentar que Florestan Fernandes jamais migrou da universidade para a política, da reflexão para a ação política. Ou ainda dizer que houve uma rotação de perspectivas, de uma em direção à outra. Este raciocínio implica desconsiderar o papel político do intelectual que ele elaborou e assumiu para si, a partir da ditadura militar e depois dela. A reflexão contestadora foi alçada ao rol de tarefas políticas que incluíam a criação e a ampliação de espaços políticos para as classes trabalhadoras, a massa dos excluídos, dos marginalizados e a busca do caminho do poder.

A imersão de Florestan Fernandes na reflexão política resultava, de uma parte, da repressão do governo militar e, por outra, do próprio alcance das atividades dos intelectuais na política de índole reformista ou revolucionária. Para além dela, a reflexão, as demais tarefas políticas demandavam a  dinâmica social e da luta de classes no Brasil, e colocava como inatingíveis ou inócuas opções teóricas fixas e obsessivas, diante do imponderável daquelas mesmas disputas e conflitos. Em segundo lugar, as oportunidades históricas para a transformação social podem ser perdidas e desperdiçadas nos confrontos políticos, tanto quanto podem ser construídas coletivamente nesta sociedade em contínuo processo de revolução democrática.

Nos escritos reunidos nas referidas coletâneas ressaltam as amarguras diante das evidências de que vivemos, no Brasil, um conflito político caracterizado como uma “contrarrevolução permanente”. Esta peculiaridade social poderia ser examinada em outras escalas, como a dos demais países da periferia do capitalismo, partindo dos textos em que Florestan Fernandes tratou da América Latina, por exemplo. O estudo da experiência histórico-social da revolução cubana é uma pista para desdobrar a sua reflexão política. Ele é indicativo também do vínculo político e ideológico que os intelectuais poderiam assumir na revolução contra a ordem e na construção do socialismo em nações de capitalismo periférico. A “contrarrevolução permanente”, por sua vez, estaria sujeita às variações históricas e sociais, contraditórias e inerentes ao próprio desenvolvimento capitalista, lançando-a, sistematicamente, no desafio de promover a própria reciclagem e atualização. Em seu embate para conter a revolução democrática, a contrarrevolução desafia, sistematicamente, a imaginação política e a criatividade intelectual sob os prismas do materialismo histórico no Brasil.

O pensamento político de Florestan Fernandes revela vitalidade teórica e prática bastante rica e insuficientemente examinada e difundida.  Os estudiosos do marxismo no século XXI estão diante de volumosa carga de trabalho interpretativo e investigativo nas ciências sociais e na história do pensamento político. Esta situação poderia ser enfrentada, inicialmente, com uma seleção de seus textos que tratem da revolução democrática no Brasil, o que podem nos dizer sobre o país de hoje e de perspectivas de futuras transformações. Em outra direção estaria o exame das experiências históricas em que a dominação de classe recorreu abertamente à contrarevolução preventiva, como a ditadura de Franco (1939-1975), na Espanha, e o regime do apartheid (1948-1994), na África do Sul. Os resultados imediatos viriam nas possibilidades de análises comparativas e na avaliação dos marcos teóricos e interpretativos.

* Professor do Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, UNESP.

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Sociologia & socialismo na obra de Florestan Fernandes *

Caio N. de Toledo

O compromisso intelectual
 Na obra de Florestan Fernandes a questão do socialismo não se constituía um assunto entre outros. Não era também um objeto de discussão abordado de forma teórica ou abstrata como imporia a pesquisa de outras problemáticas de natureza sociológica ou histórica; particularmente nas duas últimas décadas de sua produção intelectual, o socialismo era uma questão vital e prioritária. Mais do que isso, para ele, o socialismo era uma questão existencial na qual ele se engajou de corpo e alma.
Não obstante este forte compromisso ideológico com o socialismo, Florestan Fernandes – ao avaliar o conjunto de sua obra e trajetória pessoal – reconhecia que foi ele, sempre e acima de tudo, um intelectual. Ou seja, como intelectual crítico nunca abdicou dos recursos próprios do trabalho científico: da teoria, da pesquisa e da fundamentação empíricas, dos recursos metodológicos e analíticos da lógica dialética.
Em sua produção intelectual, o combate pelo socialismo não se fazia apenas do ponto de vista ético-humanista na medida em que sua defesa estava fundada em uma rigorosa análise da sociedade de classes, das irreconciliáveis contradições da ordem capitalista e do Estado burguês no Brasil. Nos escritos do sociólogo, do publicista e do tribuno militante, a luta incondicional pelo socialismo esteve sempre, pois, apoiada na pesquisa empírica e na sólida argumentação teórica, jamais se confundindo com a propaganda ou com a retórica que, por vezes, estão presentes em panfletarismos de orientação esquerdista (na acepção crítica formulada em clássico texto de Lênin).
Por outro lado, Florestan nunca deixou de ironizar os chamados socialistas de cátedra ou os marxistas de gabinete que “não sabiam o que fazer” com seus conhecimentos sobre Marx e Engels. Seu juízo sobre estes colegas, no exterior e no Brasil, nunca foi complacente nem ameno: muitos intelectuais eram basicamente universitários e sua erudição se limitaria à carreira acadêmica, não à atividade revolucionária. Nesse sentido, assinalava que esses intelectuais frequentemente contribuíam para aburguesar o marxismo.
Ao contrário da maioria dos autores do chamado marxismo ocidental, Florestan Fernandes buscou sua inspiração no marxismo clássico: Marx, Engels, Lênin, Rosa Luxemburgo, Trostky – pensadores cujas obras refletiram as lutas sociais de seus tempos e buscaram oferecer, junto aos movimentos sociais, respostas radicais para a superação da ordem burguesa. Nas suas palavras, o socialismo científico ou o comunismo, formulados por tais autores, não brotaram apenas da crítica da filosofia, da economia e da história burguesas; a teoria socialista nasceu do confronto da crítica com o concreto, foi ela possível em virtude da existência das lutas efetivas do proletariado contra o capital, a sociedade de classes e o Estado burguês.
Levando em conta estes pressupostos e afirmações, a questão que se impõe ao analista é a seguinte: em que medida o cientista social – na esteira do marxismo clássico – conseguiu articular, de forma consistente e harmônica, o pensamento e a ação, a teoria e a política? Teria Florestan conseguido escapar às críticas tradicionais dirigidas ao intelectual acadêmico que privilegia a Ciência em detrimento do engajamento social e político ou, em outras palavras, que privilegia o trabalho teórico em detrimento da luta pela transformação radical da sociedade de classes? De forma mais precisa, como ele compatibilizaria a pesquisa sociológica rigorosa com a defesa da revolução socialista?
* Texto originalmente publicado em Crítica e Sociedade. Revista de Cultura política, vol. 1, no. 1, 2011. Universidade Federal de Uberlândia. Este artigo é dedicado a Heloisa Fernandes cuja figura humana, convicções políticas e compromisso intelectual fazem nos lembrar os caminhos trilhados por seu saudoso e afetuoso pai, Florestan Fernandes.
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Textos de Florestan Fernandes e de pesquisadores sobre aspectos de sua obra

Sobre o trabalho teórico, entrevista de Florestan Fernandes

acesso
Ciências sociais na ótica do intelectual militante, F. Fernandes

acesso
 Em busca do socialismo, F. Fernandes

acesso
 PT em movimento, F. Fernandes

acesso
 Sobre Caio Prado Júnior, F. Fernandes

acesso
A percepção da Assembleia Nacional Constituinte, F. Fernandes

acesso
 Capitalismo dependente e revolução social em FF, M. Limoeiro-Cardoso
 
acesso
 A Sociologia de Florestan Fernandes, Octavio Ianni
 
acesso
 Florestan Fernandes e o radicalismo plebeu em Sociologia, Gabriel Cohn
 
acesso
 Ensaios sobre o pensamento educacional de FF, Marcos Oliveira
 
acesso
 F. Fernandes e os dilemas intelectuais contemporâneos, Eliane Veras Soares
 
acesso
 Marxismo e “imagem do Brasil em FF”, Carlos Nelson Coutinho
 
acesso
 Intelectuais, vida acadêmica, marxismo e política no Brasil, Milton Lahuerta
 
acesso
 Indivíduo e sociedade: Florestan Fernandes e Nobert Elias, Marcelo Rosa
 
acesso
 Florestan Fernandes, o sociólogo militante, Vladimir Sachetta
 
acesso
 A sociologia de Florestan Fernandes, Maria Arminda Arruda

acesso
 A questão democrática em Florestan Fernandes, Silvana Tótora
 
acesso
 FF e a crítica da economia política desenvolvimentista, Rodrigo Castelo
 
acesso
 Pensar o capitalismo contemporâneo a partir da obra de FF, Thiago Mandarino
 
acesso
 F. Fernandes, História e Histórias, entrevista a G. Cohn e outros
 
acesso
 As três casas de Florestan Fernandes, Heloisa Fernandes Silveira

acesso

Dissertações e teses acadêmicas *

A critica do capitalismo dependente, Plinio Sampaio Jr.
 acesso
Capitalismo dependente e (contra) revolução burguesa no Brasil, C. Paiva
 acesso
Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos : para além de um debate, T. Martins
 acesso
Sociologia de F. Fernandes e a questão educacional, Debora Mazza
 acesso
 F. Fernandes : pedagogia nova e a centralidade da categoria Revolução, Gilcilene Barão
 acesso
F. Fernandes e a questão da intelectualidade, Tatiana Martins
 acesso
* O acesso às dissertações e teses defendidas na Unicamp  é possível após um rápido e simples cadastramento na página da biblioteca digital da Universidade. Feito isso, todos demais acessos serão automáticos.

Vídeos

Entrevista de Florestan Fernandes ao programa TV Cultura, SP (1994)
acesso
O mestre, TV Câmara Federal
acesso
 Em defesa do marxismo, 1991, Faculdade de Direito USP
acesso
 Miriam Limoeiro-Cardoso, capitalismo dependente e classes sociais
acesso
Depoimento de Antonio Candido em homenagem a Florestan Fernandes
acesso