09/07/2011

Educar Para Libertar

Uma visão sociológica


Introdução
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Estamos diante de uma nova sociedade. A sociedade do egocentrismo, onde o "Eu" tem mais valia que o "Nós", que o "Outro". A era da globalização nos deixa diante dessa realidade conflitante, o modelo econômico existente – NEOLIBERALISMO – defende a absoluta liberdade de mercado e restrições às intervenções estatais sobre a economia só devendo esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo. O Estado seria assim o mediador e o mercado o regulador da dinâmica social.
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De acordo com Azevedo (1997, p. 12)
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[...] defensores do Estado Mínimo, os neoliberais creditam ao mercado a capacidade de regulação do capital e do trabalho e consideram as políticas públicas as principais responsáveis pela crise que perpassa as sociedades [...] 
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Os programas e as várias formas de proteção destinados aos trabalhadores, aos excluídos do mercado e aos pobres são vistos pelos neoliberais como fatores que tendem a tolher a livre iniciativa e a individualidade, acabando por desestimular a competitividade e infringir a própria ética do trabalho.
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Dessa forma percebemos como o mercado capitalista/neoliberalista gera cada vez mais uma sociedade de excluídos, uma sociedade onde quem tem vez é aquele que tem condições de estar sempre se reciclando e acompanhando as novas tendências econômicas e as inovações das tecnologias advindas das necessidades impostas pela globalização.
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E nessa era da globalização um dos grandes desafios da sociedade atual é ter um sistema educacional que promova e viabilize a formação de indivíduos preparados para essa realidade, com níveis de aprendizado compatíveis com a necessidade social existente.
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Mesmo cientes desta necessidade, devido a falta de políticas públicas eficazes, estamos diante de um quadro educacional bastante caótico, com níveis de repetência e evasão altíssimos, e encontramos um mercado com necessidade de material humano especializado e não temos mão de obra qualificada para atendê-lo.
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Precisamos trabalhar nessas crianças o estímulo pela leitura crítica e o gosto pelo aprender, pois somente assim serão livres em suas atitudes e pensamentos por toda a vida.
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Nesse sentido, Piaget (apud DUARTE, 2000, p.34), afirmou que "...o ideal da educação não é aprender ao máximo [...] mas antes de tudo aprender a aprender, aprender a se desenvolver e aprender a continuar se desenvolvendo depois da escola." 
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Estamos na era da informação e as novas tecnologias batem a nossa porta, seja através de um panfleto, um anúncio, uma propaganda. Mas que tipo de informação chega até nós? Como selecionar criteriosamente o que devemos trabalhar com as crianças, diante dessa avalanche de informações? Estamos criando uma sociedade condicionada a aceitar fórmulas prontas sem questioná-las, isso ocorre de certa forma, porque o ser humano não tem o hábito de ler, e muito menos, o que está nas entrelinhas, isto é, ler o que não foi realmente escrito, mas o que está implícito. É necessário que o professor seja o grande mediador da construção desse conhecimento, levando esses alunos a olhar a vida de maneira criteriosa e valorizando cada uma de suas conquistas.
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A liberdade do Educar e a liberdade do Aprender.
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Quando mencionamos liberdade nos remetemos à memória do mestre Paulo Freire, que em sua complexa simplicidade de ver a educação nos deixou um legado precioso de como ver a educação sob a perspectiva de um olhar amoroso e comprometido com o bem estar do educando.
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De acordo com Freire (1981b: 35):
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"...a liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma busca permanente. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente por que não a tem."
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E é nesse modo simples de relatar a liberdade que enxergamos a educação com o propósito de mudança do estado crítico atual. Para Paulo Freire a educação é um processo de humanização, é sair de seu estado bruto através de uma relação com o mundo. Como ele próprio diz: "Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo." (1981b: 79). A partir daí desenvolve-se toda uma crítica a educação bancária, sendo superada pelo diálogo problematizado, tendo a participação ativa do educando e a valorização de sua cultura e de seu saber.
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Temos que perceber que somos seres que possuem liberdade de escolha, mas que nem sempre nos damos conta deste fato. Mesmo nas pequenas escolhas temos diferentes reações. Enquanto para uns uma determinada disciplina é compreendida com certa facilidade para outros pode ocorrer o inverso. Vemos as coisas de maneira diferente e dessa forma reagimos também diferentemente. É preciso aceitar também que tudo existe mudança, o que vemos de uma forma hoje, poderá ser mudado de acordo com as percepções que tivermos diante do fato. A vida não tem mão única, sempre existirá a volta. Da mesma forma ocorre com os saberes.
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Ser livre é se perceber como autor dos fatos e não apenas um personagem. É verdadeiro que precisamos nos posicionar diante dos fatos e termos a consciência crítica para abordá-los de maneira coerente para que haja significação na construção desse conhecimento por parte dos alunos.
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A autonomia como ponte para uma liberdade consciente
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Quando falamos em autonomia como ponte para uma liberdade consciente queremos levar os educadores a atentarem para uma prática educativa que levem os educandos a se perceberem como indivíduos que tem o poder de transformar a realidade social existente. Que possuem o poder de passarem de excluídos para incluídos e capazes de conscientemente transformar o mundo conforme palavras de Freire.
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Não podemos conceber uma educação sem autonomia, sem liberdade, pois é através da liberdade que fazemos opções e construímos nossa própria identidade.
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Com isso precisamos repensar nossa prática para que possamos preparar nossas crianças para lerem esse mundo de descobertas que temos a nossa frente e potencializarmos análise crítica que elas terão frente aos saberes e necessidades impostas pela sociedade.
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Educação sem Fronteiras
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Para pensarmos uma educação sem fronteiras e para o futuro, precisamos nos remeter aos quatro pilares da educação e internalizá-los em nossa prática docente. Conforme foram definidos por Jacques Delors (1998), coordenador do "Relatório para a Unesco da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI", no livro Educação: um tesouro a descobrir e citado por Gadotti (2000). São eles:
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§Aprender a conhecer;

§Aprender a fazer;

§Aprendera viver juntos;

§Aprender a ser.
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Aprender a Conhecer: É preciso aprender a conhecer para não, apenas, reproduzir o que já existe e sim para repensar a realidade e reinventar o futuro.
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Aprender a fazer: Hoje não basta apenas conhecer é necessário saber fazer e esse fazer de forma coletiva colaborando sempre com a construção do outro.
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Aprender a viver juntos: Precisamos descobrir, viver e compreender o outro.
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Aprender a ser: É necessário desenvolvermos seres responsáveis, sensíveis, inteligentes, éticos com pensamentos autônomos e críticos não deixando de lado suas potencialidades individuais.

Considerações Finais:
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"Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro a tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática." (Freire, 1991, p. 58)
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E é com essa citação de Freire que queremos finalizar este artigo deixando essas reflexões com o propósito de sugerir uma relação de troca horizontal entre educador e educando exigindo-se nesta troca, atitude de transformação da realidade conhecida e com isso apresentando aos educadores uma educação conscientizadora, na medida em que além de conhecerem a realidade, forem em busca de transformá-la, ou seja, tanto os educadores quanto o educando, ao final do processo, aprofundam seus conhecimentos em torno do mesmo objeto podendo intervir sobre o mesmo.
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Dessa maneira, quanto mais se trabalha o conhecimento frente ao mundo, mais os educandos se sentirão desafiados a buscar respostas, e com isso quanto mais incitados, mais serão levados a um estado de consciência crítica e transformadora frente à realidade. E é esta relação dialética que permanece cada vez mais incorporada na medida em que, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo.


Referências bibliográficas:
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AZEVEDO, Janete Maria Lins de. A educação como política pública. São Paulo: Autores Associados, 1997, (Coleção Polêmicas do nosso tempo, 56)

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo, Cortez, 1998.    

FREIRE, Paulo. (1979). Educação como prática da liberdade. 17a ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

_______. Pedagogia do Oprimido, 9a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981b.

_______. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991.

_______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2000.  

PIAGET, Jean. Problemas de Psicologia e Genética. IN: DUARTE, Newton. Vigotski e o "aprender a aprender": críticas às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. Campinas: Autores Associados, 2000 (Coleção Educação Contemporânea), p. 209-294.


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