20/06/2011

As esquerdas no México e no Brasil

Escrito por Antonio Julio de Menezes Neto 

Estou no México realizando pesquisa sobre as escolas zapatistas. Encontrei muitas dificuldades para adentrar nos centros dos municípios autônomos zapatistas. Eles vivem um momento de fechamento e, assim, tive de vivenciar uma realidade de pessoas mascaradas que praticamente se recusavam a conversar. Mas isto fica para outro artigo.



Por ora, apresento um quadro da esquerda mexicana e faço uma comparação com a brasileira. Esclareço que a política é dinâmica e, consequentemente, não é necessário dizer que as posições das esquerdas são eivadas de táticas e estratégias diferentes.



O México vive uma realidade política em que duas esquerdas, incomunicáveis, coexistem. Uma é a esquerda institucional, que atua com objetivos eleitorais e poderia ser enquadrada como uma social-democracia tardia, moderada e liberal, porém com maiores preocupações sociais. Tem à frente o PRD e seu candidato à presidência Lopez Obrador, que nas últimas eleições perdeu para Calderón por uma diferença de 1% dos votos. Seria a esquerda moderada, “responsável” e oficial. É apoiada, dentre outros, pelo Partido Comunista Mexicano.



A outra esquerda, não institucional e socialista, não participa de eleições e nem apóia candidatos. Tem o zapatismo como uma forte referência. É apoiada pelo EZLN, pelo Congresso Nacional Indígena (CNI), que representa a ala esquerda do indigenismo mexicano, por jovens desvinculados de partidos, como os anarco-zapatistas (apesar de o zapatismo não ser anarquista) e por pequenos partidos, como o Partido Comunista do México. Recusam-se a aceitar as diversas bolsas para os pobres que são distribuídas no México. Atualmente atuam em torno da “Outra Campanha”, proposta pelos zapatistas.



Sua principal debilidade seria a pouca influência no movimento sindical mexicano. A esquerda brasileira apresenta um quadro com proximidades e diferenças. Se no México temos duas posições, no Brasil teríamos três. Pela direita, temos uma “esquerda liberal”, com preocupações sociais e de mercado e muito hegemônica no atual contexto. É liderada pelo PT e apoiada pelo PSB e o PCdoB. Tem o apoio das mais importantes centrais sindicais, como a CUT, e da UNE. É fortemente institucionalizada e está no poder desde o início dos anos 2000. Ainda possui quadros da esquerda socialistas, mas são muito minoritários. Poderíamos, grosso modo, fazer um paralelo com o PRD e seu candidato Obrador.



Pela esquerda socialista, não temos uma esquerda radicalmente anti-institucional, como no México, nem, logicamente, um movimento como o zapatismo, mas temos dois campos. No primeiro, temos uma esquerda partidária, aguerrida e importante, mas com pouca base social e sindical. É o caso do PSOL, PSTU e do PCB. Fazem oposição ao lulismo pela esquerda e buscam construir uma “Frente de Esquerda”, apesar das dificuldades decorrentes das diferenças entre eles. Participam das eleições com candidaturas próprias.



Ainda no campo da esquerda socialista, temos uma segunda posição, hegemonizada pelo MST, pela Consulta Popular e pela Assembléia Popular (o MST participa de ambos). Esta última agrega importantes movimentos sociais e pastorais. Diferenciam-se da “Frente de Esquerda” pelo fato de, apesar de críticos, não fazerem oposição explícita ao lulismo e, eleitoralmente, defenderem o chamado “voto útil” nos candidatos petistas para derrotar os candidatos do PSDB. Analiso que são fundamentais, mas a maior fragilidade estaria no não rompimento explícito com o lulismo e o conseqüente apoio eleitoral, o que pode levar a confusões ideológicas para as bases.



Assim, temos dois quadros em que a esquerda se move de modos distintos e próximos. As realidades dos países apresentam diferenças, mas também muitas semelhanças. Assim, temos uma “esquerda”, em ambos os países, institucional e eleitoral, liberal e hegemônica e, pela esquerda socialista, temos diferenças nas ações táticas e estratégias. Ainda é difícil traçar um quadro, mas, com todas as dificuldades, a esquerda socialista se move em ambos os países.



Antonio Julio de Menezes Neto é sociólogo e professor na UFMG.
 

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