20/02/2011
A UNIDADE CLASSISTA E O XXX CONGRESSO DO ANDES-SN
Diante de um quadro político que apresenta sinais que  apontam, simultaneamente, para o possível aprofundamento da aplicação  de políticas neoliberais no Brasil, reveladas, entre outras  manifestações, no anúncio de cortes no orçamento e de congelamento de  realização de concursos – afetando diretamente as universidades federais  –, e, simultaneamente, para a retomada da mobilização e da luta dos  trabalhadores, em diversas áreas, entendemos que é necessária uma  reflexão sobre nossa entidade que permita a correção de rumos e o seu  fortalecimento.
O Andes-SN exerceu e ainda exerce uma importância  fundamental na construção do sindicalismo combativo de nosso país. Desde  o enfrentamento contra a ditadura militar que culmina nas primeiras  greves de 1980 e 1981 bem como na incansável luta pela construção da  universidade pública, gratuita, democrática, laica e socialmente  referenciada, como foi formulado no Caderno 2 do Andes-SN, a  entidade tem se caracterizado como vanguarda na luta pelas liberdades  democráticas e pela construção de uma Universidade de cunho popular.
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Nos embates mais recentes, o Andes-SN tem tido  posturas corretas, de maneira geral, quanto ao enfrentamento de ações do  governo Lula, como o Reuni, que amplia o acesso à universidade sem, no  entanto, garantir as condições para sua manutenção; o Prouni, que  transfere recursos públicos para as universidades privadas ao invés de  assegurar o financiamento necessário para as universidades públicas; nas  denúncias contra as ditas “fundações de apoio”, verdadeiras caixas  secretas dentro das universidades públicas e que recentemente foram  desnudadas com acusações de enriquecimento ilícito envolvendo entes  privados e dirigentes de universidades que se nutriam de recursos  públicos. Também no terreno da luta sindical mais específica, o Andes SN  vem demonstrando uma aproximação maior com o professorado, como no caso  da recém divulgada nova proposta de Carreira, que contém, além de uma  estrutura muito bem construída, propostas concretas que reúnem as  condições de se transformarem em referências de mobilização e luta de  toda a categoria.
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No entanto, entendemos que alguns aspectos devem ser  problematizados nesta trajetória que inclusive culminam com a crise que o  Andes-SN está vivendo atualmente. Desde o seu nascimento as direções  que se sucedem, sob a justificativa de defender a liberdade de  organização sindical, insistiram na tese do “pluralismo sindical” em  contraposição à “unicidade sindical”. A unicidade sindical é uma questão  de princípio para um movimento sindical que se queira transformador da  realidade e representativo dos trabalhadores. A pluralidade sindical é  um desserviço à luta dos trabalhadores e o exemplo é a situação criada  com o surgimento da entidade pelega denominada “Proifes”.
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Todos sabemos que a grande arma do trabalhador é a  sua unidade, e como grande parte dos integrantes do anterior e do atual  governo são ex-dirigentes de sindicatos de trabalhadores (estando muitos  destes hoje a serviço do capital), sabem muito bem como enfraquecer uma  categoria: ferindo sua unidade de ação. Desta forma, o governo Lula,  juntamente com seu braço sindical, a CUT, estimulou o nascimento do  Proifes, com o único intuito de enfraquecer o movimento docente  representado pelo Andes-SN.
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Com a certeza de que a divisão do movimento docente  seria benéfica ao governo federal, o Proifes, em nome de nossa  categoria, negocia, faz acordos e, desta maneira, confunde e contribui  para a desmobilização do movimento docente, sendo participante de várias  reuniões em que o Andes-SN sequer foi convidado. Um exemplo dessas  negociações sem o apoio da categoria pôde ser observado em 2008 com o  “Termo de acordo” assinado com o governo federal (que se transformou na  Medida Provisória 431/08) e que não contou com o apoio do Andes-SN e nem  da maioria das assembléias gerais realizadas em todo o país.
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Apesar do surgimento do Proifes, a partir de brechas e  ações junto ao Ministério do Trabalho que levaram o Andes-SN a  dificuldades financeiras, justamente no momento em que mais precisava  dinamizar a luta dos docentes, em junho de 2009, o registro do Andes-SN  foi restabelecido pelo MTE, mas uma nova luta começa com a tentativa de  rejeitar o pedido de registro sindical do Proifes. Esta “entidade”  defende que as próprias seções sindicais escolham a qual sindicato  querem ficar filiadas. Isso demonstra, na prática, a ação nociva do  pluralismo sindical, já que divide a categoria e enfraquece o movimento.
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O debate sobre a unicidade e pluralismo sindical deve  ser enfrentado com seriedade junto a nossa categoria, já que a prática  tem demonstrado os efeitos deletérios que, tanto o pluralismo, como a  falta de debate sobre o tema, tem gerado.
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Além disso, percebemos que a questão da filiação à  Conlutas no 26° Congresso, em Campina Grande, mostrou-se precipitada e  que hoje nos têm colocado numa posição de isolamento. Se a desfiliação  da CUT foi uma medida acertada, devido àquela central sindical não mais  representar os interesses da classe trabalhadora, de maneira geral, e  dos funcionários públicos, de forma particular, por ter se transformado  em um órgão de conciliação de classes  e em uma correia de transmissão  das políticas neoliberais do governo Lula, a filiação à então recém  criada Conlutas em 2007 foi uma medida que se mostrou açodada e não  representativa da unidade da classe.
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Na verdade, o quadro político e sindical brasileiro  naquele momento ainda estava em um processo de grandes mudanças com  repercussão de novas tendências no movimento sindical, a exemplo do  surgimento da Intersindical. Por outro lado, a imediata filiação à  Conlutas, sem a antecedência de um amplo e constante debate, sobre o  papel e o caráter da Conlutas, que ainda estava no seu nascimento,  demonstra uma tendência ao aprofundamento da estreiteza política que  funcionou como um mecanismo de aparelhamento do movimento.
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Nos opomos à concepção de organização proposta pela  Conlutas por entendermos que necessitamos de uma verdadeira central  sindical que expresse a intervenção dos trabalhadores enquanto classe,  em que a centralidade da luta se manifeste na contradição  capital-trabalho. É fundamental que todas as demais manifestações de  movimentos organizados, seja anti-racismo, gênero, diversidade sexual,  estudantil, devam ser interpretados do ponto de vista de classe, pois,  sem essa compreensão, se tornam movimentos de busca por melhores  condições de participação na dinâmica do sistema capitalista.
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Entendemos que, no atual estágio de conformação das  políticas que possam alicerçar a base social do Andes-SN, o debate e o  aprofundamento sobre o papel das universidades estaduais têm que ser  mais efetivo dentro do nosso sindicato. As universidades estaduais têm  sido um estuário para aplicação de políticas neoliberais e dos moldes  propostos pelo Banco Mundial e organismos nacionais e internacionais que  visam ao desmonte de um projeto de universidade popular. O mesmo se  pode dizer quanto ao caso das universidades particulares, que em grande  medida submetem os professores à condição de trabalhadores precarizados e  superexplorados e sempre colocados à mercê das leis do mercado.
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Assim, entendemos que este Congresso do Andes-SN deve  ser aberto à discussão dos mais variados temas, mesmo alguns que nos  últimos anos têm sido preteridos sob a justificativa de ser matéria  vencida e que tem feito com que medidas estreitas fossem adotadas  levando ao isolamento da entidade. Desta forma, estaremos certos de  buscar superar nossos erros e construir a Universidade pela qual  lutamos: uma Universidade como instrumento de transformação da realidade  social, uma Universidade popular que contribua efetivamente para o  acesso de todos à ciência e à formação superior.
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Entendemos que o Andes-SN deve participar também das  lutas gerais da sociedade, a exemplo da campanha do Petróleo – Petrobrás  100% estatal –, na defesa do Aqüífero Guarani, na solidariedade  internacional, bem como na defesa da manutenção e expansão dos direitos  conquistados pela classe trabalhadora. É necessário mais do que nunca a  unidade dos trabalhadores para vencer os desafios que virão a partir do  governo Dilma, já que a crise econômica tende a se alastrar e a receita  do capital para minimizar os efeitos da crise é jogar a conta para os  trabalhadores através do aumento do desemprego, da diminuição dos  salários, da piora das condições de trabalho e por parte dos governos,  mesmo dos países centrais, através do corte dos gastos públicos e da  reforma da previdência social.
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A Universidade brasileira é um projeto em disputa e,  mesmo entendendo que a Universidade que queremos é um projeto da  sociedade socialista, compreendemos que mediações devem ser feitas na  luta cotidiana de nossa categoria. Cabe a nós discuti-la e construí-la  em fóruns como esse e na sociedade como um todo.
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Uberlândia (MG), 17 de fevereiro de 2011
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