11/08/2009
Aumentando a repressão no Haiti
Vejam este último informe enviado por Franck Seguy, haitiano que vive em Pernambuco, sobre as manifestações na semana passada e o aumento da repressão.
Dois estudantes presos no quadro das mobilizações da classe operária frente aos ataques da burguesia (os nossos grandon-burgueses).
Franck Seguy
A semana passada, os trabalhadores haitianos do setor da indústria de sob-contratação decidiram marcar mais uma semana de luta no quadro das mobilizações a favor do reajuste salarial. Segunda-feira, dia 3 de agosto, foi um dia para eles se manifestarem dentro das usinas do Parque Industrial da Região Metropolitana de Porto-Príncipe. Eles receberam o apoio dos estudantes da Universidade estadual do Haiti e das organizações progressistas: Modep, Batay Ouvriye, Sèk Gramsci e da Associação dos Universitários e das Universitárias Dessalinianas – ASID (em crioulo).
Terça-feira, dia 4 de agosto, os operários pararam todas as suas atividades para saírem e fazerem uma passeata do Parque Industrial até a sede do Parlamento onde aconteceria uma nova votação em relação ao reajuste do salário. Apesar das reivindicações claramente expressadas pelos operários que o reajuste salarial não pode regredir-se debaixo de 200 gourdes (4,76 dólares), os deputados decidiram votar baixando o reajuste de 200 gourdes para 150 gourdes (3,57 dólares). Com esse novo voto, os deputados negaram o voto que eles mesmos deram no mês de maio quando votaram o reajuste salarial de 200 gourdes por dia (42 gourdes=1 dólar).
Num caso desses, é claro que a luta vem crescendo. Bem cedo, hoje (segunda-feira, 10/08), os operários se mobilizaram no Parque Industrial de Porto-Príncipe. Mas, não tiveram o tempo para saírem pelas ruas. Já foram atacados pela Policia Nacional do Haiti (PNH) e a Minustah. Dois estudantes dentro da multidão que estava apoiando a mobilização foram presos. A intervenção brutal das tropas é que deu mais um impulso ao movimento dos operários. Uma multidão foi pelas ruas manifestando e reclamando para a imediata liberação dos dois estudantes presos. Ao chegarem à base da PNH, em Delmas 33, os manifestantes foram recebidos por balas da PNH e da Minustah.
No momento que estamos redigindo essas linhas, não sabemos quantos ficaram feridos. Sabemos apenas que os dois estudantes foram levados à cadeia à Penitenciária nacional. Sabemos também que a Minustah está rondando a cidade universitária (principalmente, ao redor da Faculdade das ciências humanas da UEH) reprimindo qualquer estudante encontrado na rua.
Lembranças
Após dois anos de mobilização, o parlamento votou em maio deste ano o reajuste salarial. O salário mínimo de 70 gourdes (1,66 dólar) passaria a 200 gourdes (4,76 dólares). Esse voto radicalizou ainda mais a guerra de classes. Os trabalhadores e os/as que a eles se aliarem estão nas ruas exigindo a publicação desta lei no Diário Oficial e seu cumprimento. A burguesia por seu lado mobilizou as suas instituições, principalmente o governo. Assim os nossos grandons-burgueses (grandons-bourgeois, burgueses-latifundiários como nós os chamamos no Haiti), obtiveram o veto do presidente ao salário de 200 gourdes, no dia 17 de junho. Passou o mês de julho todo sem nenhuma reação do parlamento a qual cabe a partir daí decidir se manteria o seu próprio voto ou se curvaria diante do veto do presidente. Sem nenhuma vergonha, os deputados voltaram atrás. Terças-feiras, dia 4, exatamente no momento em que os trabalhadores estavam na frente do palácio legislativo, os deputados desistiram e negaram o reajuste de 200 gourdes que eles mesmos votaram em maio. Assim, votaram baixando esse reajuste salarial para 150 gourdes.
Os trabalhadores estão agora na expectativa da decisão que vai sair da câmara alta. Os senadores ainda têm a possibilidade de ordenar por voto que o reajuste de 200 gourdes seja mantido. Com certeza, a classe trabalhadora e seus aliados não poderiam ficar apenas na expectativa. A palavra de ordem é mobilização. É no quadro das mobilizações que a PNH e a Minustah interferiram prendendo dois estudantes que estão desde esta manhã presos na Penitenciária Nacional.
O mais interessante para a nossa luta é que os trabalhadores estão aprendendo na prática os limites inerentes à democracia burguesa e às suas instituições. Estão sabendo que nunca poderão contar com as instituições burguesas para atender as suas reivindicações de trabalhadores. Um dia vai chegar onde saberão que têm a perder apenas os seus grilhões.
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