30/03/2013

Em ano eleitoral, movimento estudantil chileno se divide sobre apoio a ex-líderes


Também há divergências sobre uma abstenção em massa no pleito presidencial de novembro deste ano.



Depois de quase dois anos levando adiante uma intensa batalha de ideias contra o governo nacional em prol de mudanças profundas no sistema educacional e de fomentar inclusive o debate em torno de uma nova assembleia constituinte no país, o Movimento Estudantil Chileno se encontra, pela primeira vez, dividido.

As divergências se acentuaram entre as distintas frentes dentro do movimento justamente quando o país começa a se preparar para uma eleição presidencial – a que escolherá o sucessor do atual presidente, Sebastián Piñera, e que tem Michelle Bachelet como principal favorita. A situação não é casual, já que a divisão ocorre pelas posturas diferentes que cada frente defende sobre como encarar o processo eleitoral.

De um lado estão os líderes universitários que levantaram o movimento em 2011, que reaparecem agora no cenário nacional, defendendo suas candidaturas a deputado, por diferentes legendas. Do outro estão os atuais líderes da Confech (Confederação dos Estudantes do Chile), defendendo que os estudantes devem participar do debate eleitoral cobrando todos os candidatos, inclusive os oriundos do movimento, e não tentar transformá-lo em um partido político. E em uma terceira tendência, os secundaristas, que defendem uma abstenção em massa para forçar a criação de uma assembleia constituinte no país.

Segundo Andrés Fielbaum, presidente da FECH (Federação de Estudantes da Universidade do Chile, a maior do país), as eleições não vão frear as marchas estudantis, apesar dos comentários de figuras do atual governo dizendo que o movimento perdeu poder de mobilização. “Eles podem falar o que quiserem, pois nós sabemos que internamente a força e a convicção em torno das bandeiras estudantis ainda são as mesmas de 2011, basta ver que todos os candidatos estão baseando seu discurso em projetos educacionais”, comentou.


Os candidatos estudantis


Apesar de a disputa presidencial ser o foco do movimento para este ano, são as eleições legislativas que iniciaram a polêmica entre os estudantes. Isso porque os três principais líderes da Confech em 2011 (quando o movimento teve suas primeiras marchas massivas e chegou a reunir mais de 500 mil pessoas em diferentes marchas pelo país), já anunciaram suas candidaturas para deputados.

Líder das primeiras marchas daquele ano, a hoje geóloga formada Camila Vallejo aceitou disputar uma vaga como deputada pela Região Metropolitana de Santiago e será uma das cartas fortes do Partido Comunista na capital, junto com outro líder estudantil de 2011, Camilo Ballesteros, que no ano passado quase foi eleito prefeito da comuna de Estación Central – perdeu por menos de 1% de diferença.

O terceiro nome do triunvirato que levantou a Confech naquela “primavera escolar” chilena também já está em campanha. Depois de sair do movimento estudantil, Giorgio Jackson criou seu próprio referente político, batizado como Revolução Democrática, e teve participação fundamental em algumas disputas eleitorais municipais em 2012 – por exemplo, foi o braço direito de Josefa Errázuriz, a dona de casa que derrubou a dinastia de Cristián Labbé, o ex-guarda-costas de Pinochet, em Providencia, principal comuna de classe média da capital, evitando assim que ele conseguisse seu sexto mandato consecutivo. Este ano, Jackson estará focado em sua própria candidatura.
Andrés Fielbaum, atual presidente da FECH (a mesma federação de onde surgiu Camila Vallejo), pertence à tendência que acha que o movimento estudantil deve participar do processo eleitoral fomentando o debate, mas sem apresentar candidatos próprios, mas não condena os colegas que se lançaram: “se eu pudesse votaria em todos, e talvez um deles tenha o meu voto. O único que esperamos é que eles sejam fiéis às bandeiras que defendemos durante esses anos, por exemplo, não apoiando presidenciáveis que representam o sistema educacional atual”.

O comentário final de Fielbaum se refere à outra polêmica que tem colaborado para a divisão dentro do movimento estudantil. O Partido Comunista, de Camila Vallejo e Camilo Ballesteros, pretende participar das primárias abertas da Concertação (coalizão de centro-esquerda, hoje opositora, mas que governou o país entre 1990 e 2010, período no qual manteve vigente o atual sistema educacional, herdado da ditadura de Pinochet).

Sendo assim, em uma provável vitória da ex-presidente Michelle Bachelet (2006-2010) nas primárias, os candidatos estudantis do PC se veriam na constrangedora situação de ter que apoiar a candidatura de quem vem sendo uma das figuras mais criticadas pelos estudantes, e por eles mesmos, desde 2011.

Secundaristas pregam abstenção



Considerados por muitos analistas como os principais responsáveis pelos 55% de abstenção nas eleições municipais de 2012, os estudantes secundaristas pretendem manter a aposta este ano. É o que explica a porta-voz da ACES (Assembleia Coordenadora dos Estudantes Secundaristas), Eloísa González: “este momento, em que tanto o governo de direita quanto a oposição de centro-esquerda sofrem com baixa popularidade, é o mais propício do pós-ditadura para dar um golpe de morte a este sistema eleitoral viciado e exigir uma nova Constituição e um novo sistema político, mais representativo”.

Eloísa também assegura que ela e os demais líderes da ACES não pretendem romper com os universitários, pois “ainda defendemos as mesmas demandas, apenas temos uma visão diferente de como lutar por elas, mas há um respeito mútuo apesar das divergências”.

A nova agenda proposta pelos novos líderes da Confech (Confederação dos Estudantes do Chile), que será iniciada no dia 11 de abril, com uma marcha envolvendo universitários, secundaristas e líderes sindicais, será um momento oportuno para manter pelo menos a comunhão das diferentes frentes em torno das quatro principais ideias defendidas pelo movimento nestes dois anos: educação pública gratuita, desmunicipalização do ensino público, proibição do lucro em estabelecimentos educacionais e a realização de uma nova assembleia constituinte para o país – a constituição vigente no Chile ainda é a mesma imposta em 1980, durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).


Fonte: Opera Mundi
  

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