28/08/2012

Superar analfabetismo nas comunidades rurais é um dos principais desafios do campo, diz ONG

Thais Leitão] Superar o analfabetismo nas comunidades rurais no país ainda é um dos principais desafios para os movimentos de trabalhadores do campo brasileiro. A afirmação foi feita na terça-feira (21) pela integrante da Via Campesina no Ceará, Maria de Jesus dos Santos, durante palestra no segundo dia do Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, que terminou no dia 22 agosto, em Brasília.

Segundo Maria, que citou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos cerca de 14 milhões de analfabetos existentes no país, quase cinco milhões são camponeses.


"O analfabetismo no Brasil não está presente entre os grandes latifundiários, entre os comerciantes, os industriais ou os empresários, mas entre os trabalhadores. É uma questão de classe e precisa ser nossa grande prioridade. Nas comunidades onde o analfabetismo é forte, é mais fácil haver manipulação, a organização é mais difícil e os trabalhadores assumem uma postura de subalternos", disse.

Maria também defendeu uma maior participação dos movimentos camponeses na formulação das políticas públicas de educação específicas para essa parcela de brasileiros. "Não queremos ser só beneficiários ou público-alvo, mas sujeitos nessas políticas", acrescentou.

A integrante da Via Campesina avalia que houve avanços nos últimos anos, como o lançamento das Diretrizes Nacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, pelo Conselho Nacional de Educação, além da criação das bases para a instituição da Política Nacional de Educação no Campo, por meio de decreto presidencial, em 2010, mas criticou o conceito adotado no Brasil de levar à área rural uma "escola assistencialista, precária e associada aos interesses do latifúndio, sem reconhecer e valorizar a localidade onde está inserida".

"O projeto de educação no campo deve ser enraizado nos interesses das organizações camponesas, baseado na agricultura familiar e nos seus variados modos de vida. As escolas indígenas têm que ter sua cultura, as quilombolas têm que ter sua história, sua tradição, e as camponesas, os valores de seus movimentos", diz.

Divina Lopes, integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Maranhão, que também participa do encontro, disse que a formação dos professores que trabalham nas escolas do campo precisa ser específica. Segundo ela, além de enfrentar infraestrutura insuficiente em diversas unidades, os alunos, em muitos casos, não têm os saberes e as experiências locais incluídos no processo de ensino.

"Muitas escolas da zona rural na minha região ainda são de pau a pique. Além disso, em muitas delas, as experiências voltadas para o campo são deixadas de lado, o que compromete a valorização da história e da experiência camponesa", lamentou.

José Wilson, secretário de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), disse que uma escola de qualidade ajuda a fixar os trabalhadores no campo, permitindo que eles identifiquem oportunidades e potencialidades.

"A escola que a gente quer mantém o povo, inclusive o jovem, no campo, porque lhe confere condições de promover seu próprio sustento, sua vida com dignidade nesse espaço. Quando a educação dialoga com a realidade local, as raízes, os hábitos, os saberes e as vivências que já existem em determinada região, ela facilita o aprendizado e contribui para um melhor desempenho das atividades no campo", disse.

De acordo com o representante da Contag, um exemplo seria a inclusão de técnicas de convivência com a seca, como estratégias de captação de água da chuva e plantio de espécies adaptadas ao clima nas escolas da região do semiárido.

"Por isso, a educação no campo não pode ser pensada universalmente, mas regionalmente, para que sejam levadas em consideração as necessidades de cada lugar", defendeu.

Fonte: Diário Liberdade

06/08/2012

Governo desrespeita professores anunciando acordo com entidade pelega e greve continua

Andes-SN - Em uma atitude de total desrespeito com as reivindicações dos professores federais, em greve há 77 dias, o governo federal disse na reunião da última quarta-feira (1) que irá assinar acordo com o Proifes (entidade minoritária, controlada pelo governo).

A afirmativa foi feita após o ANDES-SN, Sinasefe e Condsef apresentarem as respostas das assembleias de base, que rejeitaram, mais uma vez, o proposto pelo Executivo. Para os docentes, a alteração pontual colocada na mesa, na última semana (24/7), não modificou a essência da proposta do governo, o que foi reconhecido pelos próprios representantes do Ministério do Planejamento. Desta forma, continua ignorando pauta da greve nas Instituições Federais de Ensino: reestruturação da carreira docente e valorização e melhoria nas condições de trabalho docente nas IFE. Confira aqui o documento apresentado pelo ANDES-SN.

"Todas as assembleias votaram pela rejeição da proposta. No entanto, governo opta por assinar acordo com uma entidade que é sua parceira, e que não tem representatividade junto à categoria. Nós vamos continuar firmes na greve e são as assembleias de base que determinarão os rumos do movimento", afirmou Marinalva Oliveira, presidente do ANDES-SN.

Marinalva apontou ainda que a categoria tem disposição para negociar, mas que o governo não dialoga com a lógica da proposta apresentada pelo ANDES-SN e pelo Sinasefe. "O Executivo permanece surdo às nossas reivindicações, numa atitude de total desrespeito com os professores", denunciou.

Na mesa, o ANDES-SN foi enfático em afirmar que o governo tomou uma decisão que aparentemente já estava acordada na semana passada e introduziu um novo método no trato com os servidores públicos federais.

"Isso é uma escolha política, que ignora as decisões legítimas de assembléia e nega o processo democrático de negociação. Promove um processo até chegar ao impasse e aí chama seus parceiros para assinar acordos unilaterais. Essa Secretaria de Relações do Trabalho inova, mas para menos, ao desconsiderar as decisões da categoria em greve e das entidades que dirigem o movimento", disse Marina Barbosa, 2 ª secretária do ANDES-SN, no fechamento da reunião.

O Sindicato Nacional ressaltou, novamente, que não iria assinar um acordo que pode retirar direitos dos docentes e que, ao invés de valorizar, aprofunda e consolida a desestruturação da carreira, que já se encontra emperrada.

Durante a reunião, o Secretário de Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça, comunicou que, por determinações superiores, a negociação com os técnicos-administartivos teria início na próxima semana, com Fasubra e Sinasefe.

Vígila

Enquanto a reunião ocorria, representantes dos Comandos Nacionais de Greve do ANDES-SN, dos Estudantes e do Sinasefe se concentraram em frente ao prédio do Ministério do Planejamento. Atividades de vigília foram realizadas pelos Comandos Locais de várias instituições federais de ensino, por todo do país.

Histórico

Em greve desde 17 de maio, os professores das Instituições Federais de Ensino reivindicam a reestruturação da carreira docente, processo acordado em agosto do ano passado com o governo e não cumprido, e a valorização e melhoria nas condições de trabalho docente nas IFE.

Após 57 dias de paralisação, o governo apresenta uma proposta de reajuste na tabela salarial, que promove, ao final dos três anos previstos de parcelamento, a corrosão no poder de compra de grande parte da categoria. Os 45% tão alardeados pelo governo, contemplariam apenas pequena parcela dos docentes, uma vez que seriam concedidos apenas aos titulares, doutores, em regime de dedicação exclusiva. Este percentual também é falacioso, pois considerando a inflação estimada no período 2010-2015, representam menos de 10% de recomposição salarial para este segmento.

Além disso, entre outros pontos, o governo estabelecia novos parâmetros para progressão na carreira que desrespeitavam a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e feriam a autonomia universitária prevista na Constituição. Essa proposta foi rejeitada por unanimidade pelos docentes.

Em 24 de julho, foi apresentada uma reformulação, remetendo a grupos de trabalho diversos pontos estruturais da carreira, que provocaram tensionamentos na negociação, como o reequadramento dos aposentados, os critérios para avaliação institucional e promoção entre classes.

Nesta proposta, ficou evidente que os representantes do executivo mais uma vez desconsideraram os argumentos do ANDES-SN e apresentaram parâmetros que consolidam a desestruturação e o caráter produtivista da atual carreira dos professores federais.

Além disso, não respondem em nenhum momento como pretendem atender ao segundo ponto prioritário da pauta da greve: melhoria nas condições de trabalho e estudo. Jogam também essa questão para ser discutida num GT, que será formado após a assinatura do acordo. Essa proposta foi novamente rejeitada por todas as assembleias.

Fonte : Diário Liberdade

Acesso à internet em escolas públicas ainda é precário no Brasil

O último resumo técnico do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – Inep, realizado em 2011, apresentou um dado negativo em relação à inclusão digital nas escolas públicas brasileiras. Hoje, apenas 42,6% das escolas de ensino fundamental têm acesso à internet e 55,9% das instituições não têm laboratórios de informática.

A região Norte é a que apresentou menor porcentual de acesso à internet, com apenas 18,7%. Em seguida vem o Nordeste, com apenas 25,3% de acessos. Depois, o Sudeste (72%), o Centro-Oeste (73%) e, por fim, o Sul (74%), atingindo a marca da região com melhor resultado de inclusão digital nas escolas públicas do País.

Mesmo com esse cenário negativo, 79,5% dos estudantes do ensino fundamental da rede pública possuem recursos tecnológicos disponíveis e 76,9% contam com laboratórios. Mas, para a presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – Undime, Cleuza Repulho, a simples existência de laboratórios de informática não basta, é preciso fomentar o uso do equipamento. "Em unidades grandes, como temos na rede pública, ter um laboratório com 15 computadores faz com que cada criança consiga passar por ele, em média, apenas a cada 15 dias", afirma.

A presidente acredita, ainda, que uma das principais dificuldades para a introdução dos meios digitais nas instituições de ensino é a falta de infraestrutura, como o uso de um bom sistema de banda larga. O wi-fi, por exemplo, daria acesso à internet de qualquer lugar da escola, e não só nos laboratórios. Para ela, um dos principais desafios do Brasil é sanar as dificuldades de operacionalização de suas redes.

Soluções

O Ministério da Educação – MEC desenvolveu o Programa Nacional de Tecnologia Educacional – ProInfo a fim de disseminar a tecnologia pedagógica na rede pública de ensino, levando recursos digitais às escolas. O papel das instituições é apenas garantir a estrutura necessária para os equipamentos.

Além dessa medida, o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, anunciou, no início do ano, a distribuição de 600 mil tablets para os professores, com um investimento em torno de R$ 180 milhões. A distribuição começará antes que se tenha uma análise do impacto do Programa Um Computador Por Aluno – Prouca, do governo federal. O Prouca garante que Estados e municípios possam adquirir laptops novos para as escolas. Mas, até o momento, apenas 2% das escolas foram beneficiadas.

De acordo com profissionais da área, o principal problema seria a capacitação dos profissionais da educação para lidar com tais tecnologias. Para Marcus Vinicius Maltempi, especialista no uso de tecnologias na Educação, da Universidade Estadual Paulista – Unesp, o maior problema começa na educação tecnológica dos professores na própria licenciatura. "A formação inicial pouco mudou nos cursos de licenciatura, nas últimas décadas. Atualmente, ela não entrelaça os conteúdos específicos com as tecnologias e com os conteúdos pedagógicos", afirma.

A solução, segundo Maltempi, está no investimento em capacitação de professores e no apoio direcionado à comunidade e às secretarias de Educação. "A introdução das tecnologias digitais deve ser feita de modo a não perder de vista os conteúdos. Não é a tecnologia como um acessório, mas, sim, entrelaçada aos conteúdos. E são eles que dão a base para que o uso da tecnologia tenha sentido", declara.

Fonte : Diário Liberdade