17/11/2011

Militantes da Via Campesina conquistam diploma em geografia pela UNESP






“Que a universidade se pinte de negro, de mulato, de operário, de camponês.” Ainda que a utopia descrita por Che Guevara esteja longe da realidade brasileira, a Universidade Estadual Paulista (UNESP) deu um passo nesse caminho: 45 militantes da Via Campesina receberam na última sexta-feira (11/11) o diploma de bacharelado e licenciatura em Geografia pela Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Presidente Prudente (SP).

A turma, batizada de Milton Santos, em homenagem ao geógrafo brasileiro, teve início em 2007, numa parceria da UNESP com o Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), do  Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e a Via Campesina. O formato do curso foi adaptado à realidade da militância, composto de duas etapas anuais: uma realizada em janeiro e fevereiro, na UNESP, e outra em julho e agosto, na ENFF.

“O nosso curso é considerado especial pelo sistema de alternância. Nosso tempo se dividia em tempo escola (período das aulas), e o tempo comunidade, onde continuávamos nossa militância, trabalho e estudo. Pois a Via Campesina tem como princípio que para estudar não devemos nos afastar da realidade, dos espaços da luta”, conta Ivanei Dalla Costa, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e participante do curso.
Os coordenadores do curso pela UNESP, Antonio Thomaz Jr. e Bernardo Mançano, descrevem o processo de criação do curso como “uma verdadeira batalha campal” travada dentro da burocracia da universidade. Porém, com a sensibilidade e clareza de muitos diretores, foi possível que este projeto fosse aprovado.

“Nos restava esclarecer para tentar atrair os indecisos e convencer os discordantes que o projeto era importante e de alcance inédito para a UNESP, pois concretamente, estávamos diante da possibilidade de participarmos de um processo de aprendizado e aproximação com uma parcela da sociedade alijada da universidade, envolvida em lutas importantes que se somam aos princípios da universidade pública”, afirmou o professor Thomaz em discurso no ato de colação de grau da turma.

Além de militantes da Via Campesina, (do MST, MPA, MAB, PJR), também participaram do curso integrantes das Escolas da Família Agrícola, da Consulta Popular, da Educafro e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

“Temos a certeza que a possibilidade deste curso de geografia, e de muitos outros que estão sendo realizados em diversos lugares do país, é resultado de muita luta, de muitas ocupações de terra feitas por este Brasil afora. O acesso ao conhecimento nos espaços das melhores universidades públicas do Brasil é um direito que temos e aos poucos vamos conquistando”, afirmou Ivanei, em discurso como representante da turma no ato de colação de grau.


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