18/10/2011

Educação e factóide

O que fazer quando se é candidato de um partido poderoso, mas seu nome não tem popularidade? Qualquer organizador de campanha eleitoral dirá: cria-se um fato político.
Por essa perspectiva, o ministro Fernando Haddad foi um bom aluno. Ao anunciar a proposta de aumento dos 200 dias letivos/ano e sugerir que estudos revelam que o aumento dos dias repercute no desempenho escolar, criou um fato político, mas se distanciou de inúmeros estudos que indicam outro rumo a ser tomado para melhoria do desempenho dos nossos alunos
Vários especialistas da área se adiantaram a demonstrar aquilo que se espera que o ministro já tenha conhecimento.
Segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), apenas a Coreia possui 220 dias letivos.
A Dinamarca tem os mesmos 200 dias definidos por nossa Lei de Diretrizes e Bases. Noruega, Inglaterra, Eslovênia e Chile gravitam ao redor de 190 dias. A Finlândia, o país que apresenta o melhor desempenho escolar segundo o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), possui 188 dias.
Os dados oferecidos por pesquisas e avaliações sistêmicas indicam algo mais complexo e com menor impacto eleitoral: os resultados estão diretamente vinculados com a proximidade do educador com o aluno e sua família.
É justamente essa pista que é desprezada nos últimos anos por nossos gestores educacionais.
Segundo estudos realizados a partir dos dados coletados pelo Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) entre 1997 e 2005, a instrução dos pais é o principal fator que interfere no desempenho dos alunos: alunos cujas mães possuem ensino primário (atualmente, a primeira parte do ensino fundamental) apresentam desempenho três vezes melhor que alunos cujas mães não possuem instrução formal, e assim por diante.
Tal dado já havia sido indicado pelos estudos de Lev Vygotsky, no início do século 20, observando que os hábitos familiares definiam a conduta e o desempenho escolar.
A baixa rotatividade de professores também aparece como fator que contribui para melhorar o desempenho escolar. Já os dados do Saresp (avaliação sistêmica da educação paulista) sugerem que o tempo do diretor escolar nessa função também influencia positivamente na vida escolar do aluno.
Estudo promovido pelo movimento Todos pela Educação revela que redes menores (com menos de 15 escolas) apresentam melhores resultados que grandes redes.
O que esse conjunto de dados sugere? Que educação é relação humana, intimista. Pequeno é melhor, quando se trata de educação e desempenho escolar. Sugere que redes menores; professores estáveis; diretores que conhecem pais, alunos e profissionais de sua escola; escola que se aproxima das comunidades e famílias geram melhores resultados escolares.
Não há segredo. Os gestores educacionais precisam, urgentemente, se afastar de factóides. Precisam investir mais, ouvir mais as salas de aulas e escolas. E ler os dados dos estudos e levantamentos que eles mesmos financiam.
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RUDÁ RICCI, 48, é sociólogo, consultor do Sindicato de Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo e autor de "Lulismo" (Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto). Blog: www.rudaricci.blogspot.com.  Jornal Folha de são Paulo. Caderno Opinião, TENDÊNCIAS/DEBATES. São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2011.
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