19/10/2011
Chile baixa Lei de Segurança Nacional para reprimir protestos de estudantes
O ministro do Interior do Chile, Rodrigo Hinzpeter, declarou hoje que  a Lei de Segurança Nacional passará a vigorar a partir de amanhã em  todo o país, no segundo dia da paralisação nacional convocada pelos  movimentos estudantis e sindicatos de trabalhadores que há cinco meses  reivindicam uma ampla reforma educacional e constitucional. 
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A medida foi anunciada depois que 15 manifestantes queimaram um  ônibus articulado e montaram dezenas de barricadas em chamas em diversos  pontos do centro da capital, Santiago. A Lei de Segurança Nacional  amplia os poderes da polícia para interpelar suspeitos e deter pessoas  sem acusação formal. Também restringe direitos de associação e  circulação dos cidadãos e deve ter impacto nos protestos marcados para a  noite de hoje e a manhã de amanhã.
“O governo tomou esta decisão contra os que, hoje, interceptaram um  ônibus, aterrorizaram e fizeram descer todos os passageiros e o  motorista e, logo, incendiaram o coletivo. Como governo, não estaríamos  cumprindo nossa obrigação se não apresentássemos esta lei”, anunciou  Hinzpeter no palácio de governo. Pelo menos 60 pessoas haviam sido  detidas até o fim da tarde de ontem. Para a noite, os estudantes  convocaram um panelaço na Plaza Italia, tradicional ponto de  manifestações públicas da capital.
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O anúncio provocou críticas de diversos setores. O analista político  Patricio Navia, acadêmico da New York University e da Universidade Diego  Portales de Santiago do Chile, disse ao Opera Mundi que “esta é  uma lei da ditadura, criada para reprimir o que se chama no Chile de  terroristas sem muita base legal”. Segundo ele, a mesma lei já foi  invocada em pelo menos três ocasiões desde a volta da democracia, em  1990 – duas delas durante o governo da Concertación, coalizão de  centro-esquerda que esteve no poder por 20 anos antes da direita voltar  ao poder, em março de 2010.
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“É simbolicamente importante que a Lei de Segurança tenha sido  invocada agora, no primeiro governo de direita desde o fim da ditadura.  Trata-se de uma tentativa do presidente Sebastián Piñera de recuperar  sua popularidade entre os setores de direita. Menos de 30% dos chilenos  apoiam seu governo, apesar de que o eleitorado de direita no Chile é de  tradicionalmente 40%”, disse Navia.
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Esta semana, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)  anunciou que investigará a ação da polícia chilena na contenção de  distúrbios. Há dois meses, a tropa de choque matou um jovem em Santiago  com um disparo de fuzil e centenas de jovens são detidos toda semana sem  acusação formal. A polícia chilena tem o direito de deter pessoas para  “checar documentos” por até 12 horas, incluindo menores de idade.
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O governo enviou ao Congresso um Projeto de Lei que impõe pena de  três anos de prisão para quem ocupar escolas ou universidades para  protestar, ou quem desviar o trânsito ou desrespeitar a polícia no meio  de um protesto.
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Além da preocupação manifestada pela CIDH, o relator da ONU para  Liberdade de Expressão, Frank La Rue, também pediu que o governo chileno  autorizasse a visita de uma missão da organização ao país. Desde o  início do governo Piñera, em março de 2010, 12 jornalistas de agências  estrangeiras de notícias foram diretamente agredidos pela polícia. Hoje,  foi a vez de um fotógrafo da agência de notícias France Presse ser  preso. A ONG Repórteres Sem Fronteiras lançou um comunicado mostrando  preocupação pela situação no Chile.
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Tensão
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Hoje, o clima foi de expectativa e tensão entre os milhares de jovens  que há cinco meses estão mobilizados em todo o Chile pedindo mudanças  no sistema educacional. Pelo menos 50 mil deles podem perder o ano  letivo por engajar-se num movimento que não dá sinais de cansaço e  entrou nos últimos dias num momento perigoso, com o governo decretando a  Lei de Segurança Nacional.
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O Opera Mundi esteve na Universidade do Chile na tarde de  hoje. Dezenas de estudantes mobilizados se mostravam animados com o que  consideram ser uma vitória na batalha pelo apoio popular. Hoje, o  movimento estudantil entregou ao Ministério da Educação o resultado de  um plebiscito nacional no qual quase 89% dos chilenos que participaram  da proposta apoiaram a principal demanda do movimento, que é a educação  gratuita. Pelo menos 1,5 milhão de chilenos votaram.
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Fonte: Opera Mundi
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