23/06/2011

A GREVE DOS TRABALHADORES DE EDUCAÇÃO MINEIROS

Por Levon do Nascimento

Nós, professores da rede estadual de Minas Gerais, estamos em greve desde 8 de junho, discutindo e reivindicando a implantação do Piso Nacional do Magistério no estado. O governo mineiro implantou a remuneração por subsídio, que incorpora vencimento básico e gratificações, distorcendo o piso e embaralhando a remuneração final do servidor da educação. Se possível levanta essa discussão no seu blog. Ajude-nos a furar o bloqueio da mídia mineira e nacional. Não quero fazer política partidária aqui. Quero apenas levantar as questões da educação mineira (e nacional) para um debate autêntico.
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De forma bem humorada, mas sem deixar de dizer a verdade, o Professor História, Euler Conrado, publicou o seguinte texto fictício que explica a nossa situação de diálogo em relação ao governo mineiro.



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Exclusivo! Blog filma reunião entre governo e sindicato na Cidade Administrativa
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Através de filmagem ultrassecreta, o Blog do Euler consegue gravar a última reunião ocorrida entre as representantes do Sindicato dos Educadores - o Sind-UTE -, e a secretária da Educação e assessores diretos desta, pelo governo de Minas.
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A reunião durou três horas e nem um cafezinho sequer foi servido. E para piorar as coisas, a secretária mandou ligar o ar condicionado no ultimo furo, para deixar o ambiente bem congelado, igual ao salário dos educadores.
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Com moderna tecnologia, conseguimos captar todo o diálogo entre as partes, de forma exclusiva. Até mesmo os cochichos da secretária com suas assessoras foram gravados pelo blog. Acompanhem os principais lances deste emocionante encontro a seguir.
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- Sindicato: Bom dia, sra. secretária, viemos falar hoje especificamente sobre o piso salarial...
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- Secretária: ah, o piso. Pois é, minha filha, não sei se vocês ficaram sabendo, mas o piso aqui da Cidade Administrativa trincou todo. Tivemos que contratar cinco empreiteiras para iniciar os serviços de reparo. Felizmente, os reparos ficaram baratos, na verdade uma mixaria, de quase 500 milhões de reais...
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- Sindicato: Mas, o piso a que estamos nos referindo, sra. secretária, é o do magistério...
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- Secretária: Ah, o magistério, eu tô encantada com o magistério de Minas. Os resultados das nossas pesquisas e avaliações indicam que o magistério de Minas é o melhor do Brasil. Os educadores estão de parabéns pelos serviços de qualidade que vêm prestando. Por favor, levem essa minha mensagem para os educadores...
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- Sindicato: Então, secretária, já que o serviço do magistério é de qualidade, nada mais justo do que pagar o piso...
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- Secretária: Mas nós já pagamos, minha filha. Não te falei que cinco empreiteiras foram contratadas para reparar o piso aqui da Cidade Administrativa.
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- Sindicato: Não, sra. secretária, mas não é este piso que nós estamos falando não, secretária, é o nosso piso.
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- Secretária: Uê, cês também tão com problema de piso na casa de vocês? Uai, eu posso indicar uma empreiteira muito boa para pequenos serviços de reparo em domicílios.
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- Sindicato: Não, sra. secretária, estamos falando de salário, piso do magistério, sra secretária!
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- Secretária: calma, minha filha, não precisa ficar nervosa. (Neste instante a secretária cochicha no ouvido de uma assessora: "que povo chato esse, que só sabe falar em piso, piso, piso, que pobreza!").
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- Secretária: Mas, pois é, minha filha, retomando a conversa, essa estória de piso não tá com nada não. Nosso negócio agora é subsídio. É muito mais chique do que este negócio de piso. Veja bem: deputado recebe subsídio, ministro do STF e desembargador recebem subsídio; o governador de Minas recebe subsídio. Até eu recebo subsídio e posso afirmar para vocês com segurança que estou muito satisfeita. Não troco meu subsídio de jeito nenhum pelo piso do magistério. (Aí ela cochichou novamente no ouvido da assessoria: "teve até um doido aí que propôs trocar meu subsidio pelo salário dele. Deus que me livre!!!!!").
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- Sindicato: Mas, secretária, o subsídio de vocês é de ricos; o nosso é de pobres. Vocês discutem o teto, nós queremos o piso.
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- Secretária: que coisa minha filha, essa mania suas de querer sempre pra menos. Isso é coisa de pobre, minha filha. Por isso que nós criamos o subsídio com todo carinho para vocês. Para que vocês possam dizer para todo mundo que, tirando os deputados, desembargadores, governador - até eu, imagina! -, somente os educadores em Minas é que recebem o subsídio. E olha que o subsídio que nós oferecemos é muito maior do que esse tal de piso do MEC.
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- Sindicato: Mas o subsídio que vocês ofereceram somou o vencimento básico e todas as gratificações e com isso descaracterizou o nosso piso...
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- Secretária: Então, minha filha, é melhor somar do que dividir ou subtrair, não é mesmo? (E aí já cochichando no ouvido da assessora: "que povo chato, meu Deus, só falam em piso, piso, piso. Que pobreza! Manda aumentar o ar condicionado, faz favor")
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- Secretária: Mas, então minha filha, retomando a conversa, nós temos que ter uma visão de futuro. O governo de Minas tem um projeto todo especial para a Educação pública. Estamos pensando, por exemplo, em sugerir para os diretores das escolas a uniformização dos uniformes dos alunos. Contratamos uma empresa especializada no assunto e pagamos uma bagatela de R$ 200 milhões pela consulta, e já escolhemos o novo modelo de uniforme para alunos e professores: blusa rosa choque e calça bonina.
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- Sindicato: Mas, secretária, nós estamos falando do piso...
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- Secretária: ah, o piso, que bom que vocês lembraram, porque não havíamos pensado no sapato adequado para combinar com o uniforme. Ohhh, Fulana (aí se dirigindo a uma das assessoras), liga lá para empresa especializada e pede outra consulta urgente sobre o calçado, o pisante, entendeu, para o uniforme. Tá vendo como é bom conversar com este pessoal do sindicato. Não tinha nem lembrado desse detalhe importante da vestimenta...
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- Sindicato: Mas, secretária, nós estamos falando do piso salarial do magistério, que agora é lei federal... Pelo amor de Deus!
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- Secretária: Ahhhhhhhhh, é sobre isso que vocês queriam falar? Ah, cês deviam ter sido mais objetivas, porque agora meu tempo com vocês acabou. Vamos marcar uma nova reunião pra semana que vem. Nós temos muita coisa pra discutir. Agenda aí pra gente, oh Fulana. E manda entrar o pessoal do governo que está aí fora, porque o pessoal do sindicato já está de saída. (Detalhe: o pessoal do governo a que ela se referia era o pessoal da AaPpPMg e do Sindipublicado).
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Assim, mais uma objetiva reunião entre o governo e o sindicato foi realizada no 14º andar do prédio Minas Gerais, na Cidade Administrativa.
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Ao despedir-se do pessoal do sindicato, a secretária ainda advertiu:
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- Muito cuidado quando descerem as escadarias do prédio - o elevador estava enguiçado -, porque lá embaixo o piso tá todo trincado. Graças a Deus que nós só entramos aqui pelo teto.

 Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-greve-dos-professores-mineiros

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