27/04/2011

A Falácia da meritocracia na escola

Cathie Black é uma sexagenária sem background nem experiência na educação que trabalhou na direção da Hearst Magazines e do Usa Today e com uma carreira longa na gestão da Coca Cola e IBM. É uma mulher ligada ao mundo empresarial e foi contratada pelo mayor de NYC, Michael Bloomberg, para levar à gestão das escolas públicas a mentalidade e a atitude do mundo empresarial e dos negócios.

O objetivo da contratação de Cathie Black para Chancellor das escolas públicas de NYC era claramente o fecho das escolas ineficazes.

Cathie Black tomou posse em Janeiro de 2011 e resignou em Março de 2011. Um dos dossiês que Black não conseguiu resolver prende-se com a intenção de fechar 22 escolas da cidade com maus resultados escolares. O outro dossiê prende-se com o elevado número de alunos por turma em algumas escolas da cidade. Pais e professores fizeram pressão no sentido da redução do número de alunos e Black encabeçou o lado contrário, fazendo afirmações em público algo controversas sobre as turmas com mais de 30 alunos, desvalorizando o problema.

Três meses no cargo de Chancellor das escola de NYC foram suficientes para que Cathie Black e o mayor, Michael Bloomberg, chegassem à conclusão de que a escolha foi errada. 

Que lições se podem tirar deste episódio para a reforma das escolas?
Os sindicatos e os democratas de esquerda  usam o fracasso de Cathie Black para argumentar contra a opção de colocar à frente dos sistemas escolares pessoas de fora do mundo da educação e que usam as estratégias do mundo empresarial para resolver os problemas das escolas.

Os republicanos mais à direita argumentam que o fracasso de Cathie Black resulta do bloqueio dos sindicatos às reformas nas escolas e apontam o caminho traçado pelo Governador do Wisconsin que pôs fim à negociação coletiva no Estado e aos contratos docentes por tempo indeterminado.

A demissão de Cathie Black em Março de 2011, assim como de Michael Rhee de Chancellor das escolas públicas de Washington DC, em Outubro de 2010, mostram que dirigir escolas não é o mesmo que gerir empresas. Sem envolvimento dos professores é quase impossível reformar as escolas.

Tanto Cathie Black como Michael Rhee são favoráveis ao merit pay, ao fim da tenure e à avaliação de desempenho centrada na evolução dos resultados dos alunos em testes estandardizados. Nem uma nem outra foram bem sucedidas nos propósitos.
Fonte :AQUI

Secretária de Educação de Nova York é demitida após três meses no cargo
A grande novidade recente foi a decisão do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, de substituir a chanceler das escolas da cidade, Cathleen Black, em 07 de abril. Ela ficou apenas três meses, o que estabelece um recorde de menor duração jamais visto nesta posição. O prefeito anunciou imediatamente a seleção de seu vice-prefeito de confiança, Dennis Walcott, como chanceler. No mesmo dia, o Comissário de Educação do Estado de Nova York David Steiner anunciou sua renúncia, após menos de dois anos no cargo. Eu escrevi sobre esses eventos em um blog do The New York Review of Books, por isso não vou dar a história completa aqui. 
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Há uma ironia rica nestes processos. Nos últimos meses, o prefeito fez uma campanha vigorosa contra a estabilidade dos professores, agora conhecida como "LIFO" ou "Last In, First Out". Com o apoio da mídia, ele argumentou que a experiência não importa quando se trata de ensinar. A expulsão rápida de Cathie Black sugere que o prefeito Bloomberg não é totalmente avesso à prática do LIFO. E quando o prefeito nomeou o vice-prefeito Walcott, ele destacou em Walcott a longa experiência no campo da educação como sendo a sua qualificação principal para essa posição muito importante.
Quando a nomeação de Black foi anunciada pelo prefeito, ele recebeu considerações efusivas de líderes empresariais da cidade que asseguraram ao público que Black tinha exatamente as competências "essenciais para a condução de qualquer grande organização, quer no sector privado, público ou sem fins lucrativos", e que "seria difícil encontrar um candidato mais qualificado e mais capaz do que Cathie Black". Black recebeu apoio igualmente entusiasmado de ex-prefeitos como Edward I. Koch, N. David Dinkins, e Rudy Giuliani, bem como de celebridades como Gloria Steinem, Oprah e Michelle Rhee.
Que lições foram aprendidas com este fiasco? (Hesito em falar sobre as "lições aprendidas", porque em nossos dias nenhum formulador de políticas educacionais de alto nível parece dar importância para evidência ou lógica ou história).
É agora evidente que Black não tinha as habilidades essenciais para a condução do maior sistema escolar público da nação. O prefeito Bloomberg destacou que ela era uma "gestora superstar" e ela pode muito bem ter sido uma estrela como diretora-presidente da Hearst Magazines. Mas agora sabemos que o sucesso nos negócios não é garantia de sucesso na educação. Quando se entra na posição mais elevada no sector da educação, deve-se ter um profundo conhecimento e experiência com escolas, crianças, currículo e avaliação, ensino e aprendizagem, os meandros da legislação federal e estadual, e uma série de outras questões. É preciso ser capaz de interagir com respeito e com conhecimento com os pais, funcionários e com o público. Infelizmente, Black não tinha nenhum conhecimento e nenhuma dessas habilidades. Os pais da escola pública se sentiram especialmente ofendido com a ideia de que o destino de seus filhos estava em mãos de alguém tão desprovido de experiência ou qualificação para o trabalho.
Os empresários parecem agir na suposição de que se você é bom em marketing e vendas ou contabilidade, você pode transferir essas habilidades para qualquer produto. Se você está no mercado de sabão ou de automóveis ou computadores ou revistas não faz qualquer diferença.
Mas, se aprendemos alguma coisa com a experiência de Cathie Black, é que a educação não é intercambiável com as empresas. Educação não é um negócio. Seu pressuposto é oferecer educação de qualidade a todas as crianças, não a segmentação de seu mercado para competir com outras empresas. Ela opera sobre o princípio da igualdade de oportunidades educativas, não como uma corrida para ver quem pode vender mais e ganhar a maior quota de mercado e colocar os outros para fora.
O controle do Prefeito foi parte do problema em Nova York. O prefeito Bloomberg, como no passado, não sentiu necessidade de ter um processo transparente ou fazer uma seleção nacional. Ele não viu porque os funcionários públicos ou outros eleitos deveriam ter voz na seleção. A decisão pertenceu somente a ele, e os pontos de vista dos outros não importaram, certamente não as opiniões dos pais. No entanto, o Secretário da Educação dos EUA Arne Duncan continua a apoiar o controle do prefeito, a vontade férrea do prefeito ser absoluto, e tem feito muito pouco em Cleveland e Chicago, ou, no caso, Nova York. Em junho passado, o Departamento de Educação do Estado de Nova York admitiu que as pontuações eram exageradas, e o “milagre” de Nova York muito divulgado, evaporou-se. Subsequentemente, as classificações do prefeito Bloomberg nas pesquisas comearam a cair, em parte devido à resposta inepta da prefeitura da cidade a uma grande tempestade de neve de dezembro, mas também porque o público percebeu que não tinha havido milagre educacional. Na última pesquisa, bem antes de Cathie Black renunciar, apenas 27 por cento da população aprovou a manipulação das escolas públicas pelo prefeito (a classificação da aprovação de Black foi de 17 por cento). Para um prefeito que queria que a educação fosse o seu legado, esta foi uma pílula amarga, e Black teve que ir-se.
Assim, grande parte da agenda da reforma empresarial atual está construída sobre princípios emprestados do mundo dos negócios. A competição é uma suposta impulsionadora de maiores pontuações nos testes. Os resultados do teste são os lucros. As escolas que não podem obter maiores pontuações nos testes estão falhando e devem ser fechadas. Os professores cujos alunos recebem pontuações mais altas devem receber bônus. Os professores cujos alunos não recebem pontuações altas devem ser demitidos. O dinheiro público deve ser entregue a empresários privados, livre das regulamentações onerosas impostas à escola pública regular, para que eles possam competir para conseguir maior pontuação.
Depois de quase uma década de No Child Left Behind, a mídia parece aceitar que este é o modo como as escolas devem funcionar. Elas vêm e vão, como lojas de sapato. Se os lucros aumentam, elas são boas. Se os lucros caem, elas são fechadas.
Assim, fazia todo o sentido, pelo menos para o prefeito Bloomberg, que uma executiva bem sucedida poderia vender seu programa. Afinal, ela abriu e fechou muitas revistas, porque não faria o mesmo com as escolas? Mas não funcionou. Ela não sabia a língua, os problemas, os jogadores, ou qualquer coisa sobre a educação pública ou sobre o desenvolvimento da criança ou a avaliação ou a prestação de contas ou qualquer das batalhas políticas encenadas atualmente.
Dennis Walcott, o sucessor de Black, ganhou a renúncia do comissário do ensino público em um piscar de olhos. Ao contrário de Black, que não tinha qualquer experiência ou qualificação, Walcott passou 18 meses ensinando no jardim de infância em uma creche há muitos anos. Ele tinha também sido da Urban League local e atuado no agora abolido Conselho de Educação. Ele vai chegar aos pais e acalmá-los. Ele sabe dos problemas e conhece a linguagem. Ele conhece os legisladores, as leis e as políticas. E ele vai continuar as políticas do prefeito de fechar escolas públicas, colocando as escolas charter em edifícios escolares públicos, ranqueando as escolas em base a resultados de testes, avaliando os professores pelo desempenho dos seus alunos, exigindo o fim da estabilidade, e fazendo exatamente o que o prefeito vem fazendo desde 2002. E, como o prefeito, ele vai continuar a louvar as realizações dramáticas da cidade, ignorando a deflação embaraçosa do milagre das pontuações da cidade no teste de Junho passado.
Deveria haver uma lei: não ostentar. Qualquer pessoa que se gabe de ganhos em pontuações de teste deveria ser imediatamente presa por desacato no tribunal da opinião pública. Os melhores educadores, como os melhores profissionais em qualquer campo, são aqueles que fazem bem o seu trabalho, sem alarde, sem uma equipe de relações públicas, sem um megafone. Eu sei que sonho com o impossível, mas para que são os sonhos?
 Fonte:http://avaliacaoeducacional.zip.net/
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