16/12/2010
A dimensão avaliativa da práxis docente
Numa época em que tudo está sujeito a processos avaliativos, discutir as dimensões da avaliação na educação pode parecer modismo. Afinal, a literatura especializada debate insistentemente quais os melhores métodos de avaliação da aprendizagem. Discutem-se os méritos e deméritos da avaliação contínua, dos diversos mecanismos de avaliar (dissertação, prova objetiva, seminários, etc.), do vestibular, ENEM, etc. Os profissionais da educação são submetidos a avaliações internas e externas e o desempenho passa a ser matematicamente pontuado. Busca-se, numa filosofia economicista, verificar se a relação custo-benefício se sustenta. A educação termina por se constituir em coisa mensurável e sujeita aos humores das autoridades.
Nesse emaranhado de múltiplas avaliações que parecem autojustificadas, como fica a situação do aluno? Qual a sua opinião sobre os seus avaliadores e processos avaliativos? Quem ouvirá os seus reclamos? Quem avalia o avaliador?
Ao contrário do que imaginam certos doutos educadores, muitos alunos não vêem com bons olhos as avaliações fundadas na memorização. Eles percebem que o método decoreba prepara-os apenas para a prova e que, depois, esquecem o conteúdo. Vêem claramente que isto não os prepara para a vida profissional, nem lhes proporcionam uma formação crítica. Esta prática pedagógica estimula e reforça comportamentos e posturas inadequadas: a cola, o plágio, a fraude escolar (compra de trabalho), a valorização da nota em lugar do processo de aprendizagem.
Os instrumentos avaliativos são inúmeros. É surpreendente que muitos professores ainda se restrinjam à avaliação estilo decoreba. Por outro lado, observe-se que, independentemente dos tipos de instrumentos avaliativos utilizados, todos são meios e não fim. O problema maior é quando a avaliação se transforma num fim em si, operando-se uma inversão de valores. Os meios utilizados têm aspectos negativos e positivos e podem ser potencializados ou não, a depender das circunstâncias e da capacidade profissional.
Propaga-se a necessidade de tudo mensurar e a certeza de que é possível fazê-lo. Pensar em termos de quantificação do saber parece até mesmo um fator intrínseco à natureza pedagógica. Proponha a extinção de qualquer mecanismo de definição de notas – pois todos os instrumentos visam quantificar resultados – e todos considerarão absurdo.
Os alunos podem questionar o mau uso dos instrumentos de avaliação, podem até mesmo preferir uns a outros e são capazes de elogiar os professores que utilizam eficazmente este ou aquele meio avaliativo. Mas, em geral, concebem a avaliação como um fato em si, naturalizando-a e não questionam os pressupostos. Aliás, não só os alunos, seus professores também! A favor de uns e outros, deve-se observar que estão submetidos a todas as exigências burocráticas do sistema de ensino.
A dimensão pedagógica da avaliação está entrelaçada com a dimensão emocional. Uma prática pedagógica ineficiente e o uso inadequado de meios avaliativos geram efeitos traumatizantes. Por sua vez, a desconsideração de procedimentos éticos no agir educativo e a desatenção quanto aos aspectos emocionais produzem efeitos negativos que, além de gerar sofrimentos, comprometem a atuação do professor.
É no processo avaliativo que o poder professoral (de definir a nota, aprovar ou reprovar) mais se faz sentir. A atitude do professor é o fator de maior influência emocional. O abuso de autoridade e a desconsideração à dimensão emocional tendem a deixar marcas indeléveis por toda a vida. É preciso respeitar a pessoa do aluno, tratá-lo como ser humano. Isto deveria ser uma obviedade!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Serão eliminados do Blog os comentários que:
1-Configurem qualquer tipo de crime de acordo com as leis do país;
2-Contenham insultos, agressões, ofensas e baixarias;
3-Contenham conteúdos racistas ou homofóbicos.