01/04/2010
Escola despejada pelo PAC à beira da explosão
Três mil alunos de colégio de Triagem são desalojados após permuta do estado para obter terrenos na Rocinha. Hoje, estudam em instalações precárias nos fundos de outra unidade
Rio - O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não traz só melhorias por onde passa. Desde fevereiro do ano passado, quando a garagem de ônibus da Amigos Unidos precisou sair do alto da Favela da Rocinha, em São Conrado , para dar lugar aos edifícios residenciais do projeto, os três mil alunos e professores do Colégio Estadual Brandão Monteiro foram despejados do prédio que ocupavam, em Triagem, há 18 anos
Depois de acordo com o governo estadual, a escola virou o novo endereço da empresa de ônibus, e a unidade de ensino foi transferida para os fundos do Colégio Estadual Olavo Bilac, na Praça Argentina, em São Cristóvão. O pequeno prédio de dois andares que passou a receber os estudantes abrigava o vestiário da outra escola.
Desde que virou sala de aula, há um ano, o ‘prédio’já foi reprovado cinco vezes em vistorias da Vigilância Sanitária Municipal. Segundo os relatórios, “não há ventilação adequada”, “as dependências do colégio são extremamente pequenas em relação ao número de alunos”, “há fezes de ratos” e “necessidade de poda de árvores para diminuir problemas com micos, pombos e morcegos”.
Os problemas não param por aí. Em maio de 2009, a empresa Projetto Engenharia verificou que a rede elétrica da escola está comprometida, com risco de curto-circuitos como o que ocorreu na segunda-feira. O perigo obriga a manter computadores e ar-condicionados desligados. “Ontem um ventilador pegou fogo e caiu. Por sorte, ninguém se machucou”, contou a diretora Iêda Ribeiro Leoni.
A escola também enfrenta falta de água há sete dias. Os funcionários contam que, desde a mudança, é necessário comprar com o dinheiro da merenda dois galões de água filtrada por dia para o consumo, já que não existe filtro instalado.
As salas de aula são distribuídas em quatro espaços com capacidade para até 10 carteiras, e a diretoria foi improvisada num antigo banheiro. Já o sanitário utilizado pelos três mil alunos é apenas um e precisa ser dividido entre homens e mulheres. “Eu acho muito ruim. Além da falta de espaço, não tem ventilação”, critica a aluna Taiane Silva Couto, 17.
Colégio em troca de área para o PAC
Um dos desafios para a construção de habitações do PAC foi resolvido em 2009 com a permuta que puniu os alunos do Colégio Brandão Monteiro. O estado trocou a área da unidade, na Rua Bérgamo, em Triagem, por três terrenos da empresa de ônibus Amigos Unidos, na Rocinha. Em outubro do ano passado, foi iniciada a construção de nove prédios, com 144 apartamentos, nos espaços da Rocinha.
No endereço da antiga escola, ficava, há 20 anos, a hoje extinta Companhia de Transportes Coletivos. Há 18, o colégio ocupou um dos prédios, mas em fevereiro do ano passado foi despejado.
Biblioteca é pilha de 2 mil livros em armário
Os 2 mil livros da biblioteca do antigo prédio em Triagem estão empilhados num armário. A consulta aos títulos é praticamente impossível. “Sinto falta de uma biblioteca grande. Antes podíamos escolher um livro e ler ali”, lamenta Taiane.
Segundo os alunos, o colégio só consegue manter os 3 mil alunos porque funciona em sistema semipresencial. Mesmo assim, o desconforto é nítido. Aluna da alfabetização, Sônia Gimenez de Souza, 65, estudava de pé com o caderno encostado no muro, antes da prova: “Quando chove, alaga. Os professores precisavam de lugar melhor para ensinar e os alunos, para aprender”.
A Secretaria Estadual de Educação admitiu o problema, mas não pretende dar à escola endereço novo. Segundo a secretaria, está sendo feito um projeto para reforma e ampliação das dependências ali mesmo. A previsão é que sejam construídas mais 5 salas de aula, biblioteca, refeitório, copa, despensa, sala de professores e sanitários masculino e feminino. Mesmo assim, o colégio continuará com quase metade da capacidade da antiga unidade, que tinha 14 salas de aula.
Ainda segundo a secretaria, a escola será incluída no projeto Climatizar, que dará ar-condicionado. As obras deverão ser concluídas dentro de seis meses, mas sequer começaram.
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