08/01/2010
O pragmatismo não-ideológico de Lula
Aqui do Alto Xingu, os índios indicam o cerne da questão no filme em pauta, que revela e traduz a posição política do Lula como líder sindical, está na frase: “Trabalhador não é inimigo de patrão, mesmo porque ele é que paga nossos salários.”
Não sei se alguém terá observado no filme que, em nenhum momento na vida do Lula, antes ou depois como líder sindical, não há a menor preocupação em se instruir politicamente.
A não ser nas conversas com um irmão, não há o mais mínimo interesse em ler, em aprender com os grandes líderes trabalhistas do passado, em estudar a história do movimento trabalhista no Brasil e no mundo, e assim por diante.
A postura do Lula como líder sindical é como se o movimento dos metalúrgicos, ou da classe trabalhadora, ou dos movimentos sociais no Brasil, tivesse nascido com ele e dispensasse maiores elucubrações, que seriam típicas de intelectuais de esquerda.
Daí que a posição política do Lula sempre foi balizada estritamente pelo economismo, com o foco em garantia de emprego, de obtenção de meros reajustes salariais e outros ganhos de caráter econômico, com total desprezo das lutas políticas. Esse filme já é conhecido desde o século XIX.
Alguém poderá objetar que o movimento dos metalúrgicos possibilitou a redemocratização. Os índios argumentam que a redemocratização não foi conquista dos metalúrgicos do ABC, mas de um amplo movimento de inúmeras categorias sociais, de massas, cuja partida foi deflagrada com as eleições de 1974, quando o povo brasileiro deu um claro sinal de que a via não era pela luta armada.
Dali em diante, ocorreu um movimento ascendente de caráter político e econômico que envolveu as diferentes categorias trabalhistas até atrair a classe média e segmentos da elite, que sentiram que o regime ditatorial tinha se esgotado.
Os metalúrgicos foram envolvidos nesse amplo movimento de todas as camadas sociais brasileiras e, somente então, passaram a inscrever em suas bandeiras palavras de ordem de cunho político, como a redemocratização, a anistia, o retorno dos exilados e as eleições diretas em todos os níveis.
Mas, esse amplo movimento social de forte caráter político e em favor de mudanças, foi amortecido pelo profundo caráter economicista e conservador de alguns segmentos sociais. Foi precisamente por falta de maior mobilização política que a transição se deu “por cima”, conservadoramente, via colégio eleitoral, e com a elaboração de uma Constituição Federal que, conquanto tenha inserido alguns direitos sociais, manteve intocada a estrutura econômica e a hegemonia da burguesia financeira e agroindustrial.
Passado esse período, com a debâcle do burocratismo Stalinista em 1990, o PT, que timidamente ainda mencionava objetivo de caráter socialista em suas bandeiras, abandonou esse discurso, o discurso das mudanças, e partiu para a “real politik”: fazer alianças para ganhar eleições e se movimentar dentro do “status quo”.
Resumindo: Abandonando as grandes utopias, o PT converteu-se em mais um partido da ordem, em mais um partido social-democrata, abandonando a grande política — a política das utopias — e mergulhando de corpo e alma na pequena política, e discretamente as palavras de ordem vinculadas ao socialismo desapareceram de seus programas e bandeiras.
Assim, o filme é muito fraco não por defeito do Diretor, dos artistas, do roteirista:: é fraco porque falta à personagem principal estatura política que resulte de forte conteúdo utópico, carismático e político — mas político na verdadeira expressão da palavra –, lastro político que precisamente faltou para deflagrar as mudanças que poderiam ter ocorrido quando foi eleito com expressiva vitória eleitoral.
Mas, para isso, a personagem principal teria que ter outro estofo, assim como seu partido, hoje reduzido a mais um partido do sistema.
Não espanta que o filme seja inodoro, insípido e incolor, como, para se dizer na linguagem do “civilizado”, um café sem cafeína e um uísque sem álcool.
Alguém retrucará: Mas, o Lula e o PT não poderiam ter feito mudanças porque não obtiveram a maioria eleitoral. Ao que os índios respondem com Trotski: A maioria se constrói com mudanças efetivas, com determinação e coragem políticas.
Tivesse sido essa a postura do PT, de Lula — em suma, da liderança política.
Por: Índio Tupi AQUI
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